Robert A. Heinlein
The Number of the Beast (1979)
Comprei na época da sua edição os
três volumes que, na Colecção Argonauta, compõem este The
Number of the Beast (O Número do Monstro, na versão
portuguesa); não o li então porque, no texto introdutório dado
pela editora, afirmava-se que este livro era a continuação de Os
Filhos de Matusalém e de História do Futuro (leia-se
Time Enough For Love) — obras que
eu ainda não tinha conseguido encontrar, sem imaginar que seria
necessário passar-se mais de 30 anos até poder lê-las. Quando abri
o livro de páginas acastanhadas pelo tempo e com letra minúscula
decidi ler o original em inglês, mantendo-o porém como auxiliar de
tradução, no que me foi muito útil.
O livro, dividido em três partes, é
narrado na primeira pessoa, com cada capítulo rodando pelas quatro
principais personagens: Zebadiah, casado com Deety, filha de Jacob,
casado com Hilda. Jacob, a partir de uma base teórica de geometria
hexadimensional não-Euclidiana, onde se consideram 3 dimensões de
espaço e 3 dimensões de tempo, construiu um dispositivo que permite
viajar entre universos paralelos; a divulgação desses princípios
matemáticos atraiu as atenções de poderosos e não-humanos
inimigos, e, após sofrerem alguns atentados à sua vida, os quatro
protagonistas iniciam uma fuga, simultaneamente exploração, pelos
universos paralelos. A certo ponto constatam que esses universos
reflectem os seus gostos literários, e que a ficção de algum modo
se transformou numa realidade paralela.
Será talvez interessante notar que a
vida pode não ser consequência das condições físicas de um
planeta, mas ser a determinante dessas condições e, por extensão,
pode pressupor-se que um mundo não é o que nos cerca, mas sim
aquilo com que nos queremos cercar; assim a vida não seria a
resultante de uma infinidade de condicionalismos e acasos, mas algo
conduzido por um ser ou uma força superior, navegando num número
infinito de possibilidades correspondente a um número infinito de
mundos paralelos, algo conhecido como o "Princípio Antrópico"
— conforme é
explicado pelas notas de rodapé da edição portuguesa. Mais ainda,
segundo o físico e matemático Paul Dirac, há certas relações
numéricas curiosas entre números não-dimensionais que têm um
importante papel na física e astrofísica, que poderiam suportar
este tipo de teorias. Mas, como também se afirma algures no livro, a
matemática pode suportar "qualquer coisa"...
A aproximação ao ciclo de Future
History dá-se apenas na terceira parte do livro, onde os
protagonistas encontram Lazarus Long, após os factos descritos em
Time Enough For Love, rodeado
de outras personagens desse e do outro livro acima referido. No
capítulo final de The Number of the Beast
junta-se-lhes
Jubal Harshaw, a
impagável personagem de Um Estranho Numa Terra Estranha,
e passam ainda outras personagens de outros livros de Heinlein, como
Glory Road, por
exemplo. Isto para não alongar
sequer a passagem, em outros momentos, de personagens ou referências
a outros universos literários FC, como
os "Lensmen" de E.E. "Doc" Smith, ou os "Dorsai"
de Gordon R. Dickson, o que
dá a este livro um cariz
de homenagem a um certo tipo de literatura fantástica ou FC.
Gostei particularmente de um excerto no
capítulo 9, sobre a degradação do ensino superior, em que Zeb
descreve pormenorizadamente como é possível tirar um doutoramento,
sem estudar nem apresentar qualquer trabalho válido. O trecho é
demasiado extenso para apresentar aqui, por isso optei por outro
texto, do final da segunda parte, onde os protagonistas (em fuga,
recorde-se) encontram uns Estados Unidos paralelos, onde decidem
instalar-se temporariamente, dado conterem as condições benévolas
adequadas que eles buscavam — e
sei que haverá por aí muita gente que consideraria
este tipo de sociedade um horror...
The Bible affects their
penal system, again by selective quotation: "Eye for eye, tooth
for tooth —"
This results in a fluid
code, with no intent to rehabilitate but to make the punishment fit
the crime. I saw an example four days after we settled. I was driving
our steam wagon and encountered a road block. A policeman told me
that I could take a detour or wait twenty minutes; the highway was
being used to balance a reckless driver.
I elected to pull over and
wait. A man was staked with one leg stretched out at a right angle. A
police wagon drove down that cleared highway, ran over his leg,
turned and drove back over it.
An ambulance was waiting —
but nothing was done for a timed seventeen minutes. Then surgeons
amputated on the spot; the ambulance took him away and the block was
removed.
I went back to my wagon
and shook for many minutes, then returned home, driving cautiously. I
didn't tell our family. But it was reported on radio and the evening
paper had pictures — so I admitted that I had seen it. The paper
noted that the criminal's insurance had been insufficient to cover
the court's award to the victim, so the reckless driver had not only
lost his left leg (as had his victim) but also had had most of his
worldly goods confiscated.
There is no speed limit
and traffic regulations are merely advisory — but there are
extremely few accidents. I have never encountered such polite and
careful drivers.
A poisoner is killed by
poison; an arsonist is burned to death. I won't describe what is done
to a rapist. But poisoning, arson, and rape are almost unknown.
My encounter with this
brutal system of "balancing" almost caused me to think that
my dear wife had been mistaken in picking this world — we should
move! I am no longer certain. This place has no prisons, almost no
crime, and it is the safest place to raise children I've ever heard
of.
We are having to relearn
history. "The Years of Rising Waters" explain themselves.
The change came before 1600; by 1620 new shorelines had stabilized.
That had endless consequences — mass migrations, political
disorder, a return of the Black Death, and much immigration from
Great Britain and the lowlands of Europe while the waters rose.
Slavery never established
here. Indentures, yes — many a man indentured himself to get his
family away from doomed land. But the circumstances that could have
created "King Cotton" were destroyed by rising waters.
There are citizens here of African descent but their ancestors were
not slaves. Some have indentured ancestors, no doubt — but everyone
claims indentured ancestors even if they have to invent them.
Some aspects of history
seem to be taboo. I've given up trying to find out what happened in
1965: "The Year They Hanged the Lawyers." When I asked a
librarian for a book on that year and decade, he wanted to know why I
needed access to records in locked vaults. I left without giving my
name. There is free speech — but some subjects are not discussed.
Since they are never defined, we try to be careful.
But there is no category
"Lawyers" in the telephone book. Taxation is low, simple —
and contains a surprise. The Federal government is supported by a
head tax paid by the States, and is mostly for military and foreign
affairs. This state derives most of its revenue from real estate
taxes. It is a uniform rate set annually, with no property exempted,
not even churches, hospitals, or schools — or roads; the best roads
are toll roads. The surprise lies in this: The owner appraises his
own property.
There is a sting in the
tail: Anyone can buy property against the owner's wishes at the
appraisal the owner placed on it. The owner can hang on only by
raising his appraisal at once to a figure so high that no buyer wants
it — and pay three years back taxes at his new appraisal.
Li anteriormente:
Amor Sem Limites (1973)
The Moon is a Harsh Mistress (1966)
Stranger in a Strange Land
(1961)