H. G. Wells
The Island of Doctor Moreau (1896)
Outra obra de H.G. Wells que conta com várias adaptações ao cinema. Recordo ter visto na televisão excertos, pelo menos, da adaptação de 1932 possivelmente, intitulada Island of Lost Souls, com Charles Laughton e Bela Lugosi, realizada por Erle C. Kenton. Li também, em tempos, A Outra Ilha do Dr. Moreau, do britânico Brian Aldiss, que glosava o tema. Isto para dizer que o tema de The Island of Dr. Moreau é intemporal.
Edward Prendick, último sobrevivente de um naufrágio no Pacífico equatorial, é recolhido quase inconsciente num navio capitaneado por um marinheiro de mau génio, fretado por um misterioso médico, Montgomery, que se faz acompanhar por uma estranha carga de animais ferozes. A malfadada viagem termina no destino de Montgomery, uma ilha desconhecida onde se procede à descarga; Prendick, que se tinha inimistado com a capitão, é expelido do navio, e assim se torna num visitante forçado da ilha, onde conhece o Dr. Moreau.
Esta obra questiona os limites éticos da ciência, pois o Dr. Moreau, como todos devem saber ainda que não tenham lido o livro, faz experiências com animais – vivissecção, enxertos de corpos na tentativa de recriar um novo ser, dando-lhes uma condição semi-humana em corpos grotescos, condição que esses animais não pediram nem podem recusar, significando o aprisionamento da sua ampliada consciência num inferno vivo. Aquilo que no final do séc. XIX se traduzia em transfusões de sangue e serragem de ossos, tem um paralelo nos nossos dias com as manipulações de ADN, com cientistas a brincar aos deuses, convencidos que vão corrigir aquilo que consideram ser as imperfeições da Natureza.
A strange persuasion came upon me, that, save for the grossness of the line, the grotesqueness of the forms, I had here before me the whole balance of human life in miniature, the whole interplay of instinct, reason, and fate in its simplest form. The Leopard-man had happened to go under: that was all the difference. Poor brute!
Poor brutes! I began to see the viler aspect of Moreau's cruelty. I had not thought before of the pain and trouble that came to these poor victims after they had passed from Moreau's hands. I had shivered only at the days of actual torment in the enclosure. But now that seemed to me the lesser part. Before, they had been beasts, their instincts fitly adapted to their surroundings, and happy as living things may be. Now they stumbled in the shackles of humanity, lived in a fear that never died, fretted by a law they could not understand; their mock-human existence, begun in an agony, was one long internal struggle, one long dread of Moreau—and for what? It was the wantonness of it that stirred me.
Had Moreau had any intelligible object, I could have sympathised at least a little with him. I am not so squeamish about pain as that. I could have forgiven him a little even, had his motive been only hate. But he was so irresponsible, so utterly careless! His curiosity, his mad, aimless investigations, drove him on; and the Things were thrown out to live a year or so, to struggle and blunder and suffer, and at last to die painfully. They were wretched in themselves; the old animal hate moved them to trouble one another; the Law held them back from a brief hot struggle and a decisive end to their natural animosities.
In those days my fear of the Beast People went the way of my personal fear for Moreau. I fell indeed into a morbid state, deep and enduring, and alien to fear, which has left permanent scars upon my mind. I must confess that I lost faith in the sanity of the world when I saw it suffering the painful disorder of this island. A blind Fate, a vast pitiless mechanism, seemed to cut and shape the fabric of existence and I, Moreau (by his passion for research), Montgomery (by his passion for drink), the Beast People with their instincts and mental restrictions, were torn and crushed, ruthlessly, inevitably, amid the infinite complexity of its incessant wheels. But this condition did not come all at once: I think indeed that I anticipate a little in speaking of it now.
Li anteriormente:
The Time Machine (1895)
26 de novembro de 2016
12 de novembro de 2016
The Time Machine
H. G. Wells
The Time Machine (1895)
O britânico H. G. Wells tem uma curta
série de obras bem conhecidas, datadas do virar do século XIX, a
primeira das quais é A Máquina do Tempo. Acho incrível
nunca ter tido a oportunidade de ler qualquer delas, e espero
corrigir isso agora, tanto mais quanto sempre encontrei um certo
encanto nesta proto-FC, então designada por «romances científicos»,
que encontrei em alguns dos seus contemporâneos, como Allan Poe,
Conan Doyle, Stevenson ou Verne.
A história é conhecida: um inventor
atirado para o ano 802701, encontra a Terra transformada num jardim
decadente, povoada pelos Eloi, uma humanidade infantilizada. Aquilo
que, numa primeira impressão lhe parecera uma «Idade do Ouro», a
breve trecho se transforma num cenário sinistro, quando entram em
cena os habitantes do mundo subterrâneo, os Morlocks. Dias depois,
numa fuga apressada, o crononauta chega a 30 milhões de anos no
futuro, numa Terra desolada, inóspita e povoada por bestas de
pesadelo, já sem movimento de rotação, com o sol de tom
alaranjado, em fase de extinção, onde acaba por presenciar um
eclipse solar.
Lembro-me de ter visto na televisão,
há muito tempo, a cena correspondente ao trecho que escolhi; já não
me recordo se vi o filme completo, mas esta cena ficou-me na memória.
Sei agora que era uma adaptação de 1960, de George Pal, com Rod
Taylor, Alan Young e Yvette Mimieux como protagonistas, e está no
YouTube com o preço «a partir de 2,99€». Mas, como diz um dos
comentários mais acertados – «3€ for an online movie from
1960? Go back to work, fucking jews!»
'I drew a breath, set my
teeth, gripped the starting lever with both hands, and went off with
a thud. The laboratory got hazy and went dark. Mrs. Watchett came in
and walked, apparently without seeing me, towards the garden door. I
suppose it took her a minute or so to traverse the place, but to me
she seemed to shoot across the room like a rocket. I pressed the
lever over to its extreme position. The night came like the turning
out of a lamp, and in another moment came to-morrow. The laboratory
grew faint and hazy, then fainter and ever fainter. To-morrow night
came black, then day again, night again, day again, faster and faster
still. An eddying murmur filled my ears, and a strange, dumb
confusedness descended on my mind.
'I am afraid I cannot
convey the peculiar sensations of time travelling. They are
excessively unpleasant. There is a feeling exactly like that one has
upon a switchback—of a helpless headlong motion! I felt the same
horrible anticipation, too, of an imminent smash. As I put on pace,
night followed day like the flapping of a black wing. The dim
suggestion of the laboratory seemed presently to fall away from me,
and I saw the sun hopping swiftly across the sky, leaping it every
minute, and every minute marking a day. I supposed the laboratory had
been destroyed and I had come into the open air. I had a dim
impression of scaffolding, but I was already going too fast to be
conscious of any moving things. The slowest snail that ever crawled
dashed by too fast for me. The twinkling succession of darkness and
light was excessively painful to the eye. Then, in the intermittent
darknesses, I saw the moon spinning swiftly through her quarters from
new to full, and had a faint glimpse of the circling stars.
Presently, as I went on, still gaining velocity, the palpitation of
night and day merged into one continuous greyness; the sky took on a
wonderful deepness of blue, a splendid luminous color like that of
early twilight; the jerking sun became a streak of fire, a brilliant
arch, in space; the moon a fainter fluctuating band; and I could see
nothing of the stars, save now and then a brighter circle flickering
in the blue.
1 de novembro de 2016
Esperando al Rey
José María Pérez
Esperando al Rey (2014)
Numa noite de Inverno, tive a sorte de
assistir a um documentário da TVE online sobre a catedral de Burgos.
Tratava-se do início de uma série, em sete episódios, La Luz y
el Misterio de las Catedrales, dedicada às catedrais góticas
espanholas, que acompanhei semanalmente. Era apresentada por José
María Pérez, arquitecto e desenhista (conhecido como «Peridis»,
publicou uma tira diária no El País de 1976 a 2011), cujo
dom da palavra e capacidade comunicativa me fez lembrar o saudoso
José Hermano Saraiva. Depois descobri que, anos antes, tinha
apresentado uma outra série, Las Claves del Románico, muito
mais extensa, com 33 episódios emitidos em três temporadas entre
2002 e 2007, que dão um panorama muito pormenorizado dos monumentos
românicos no país vizinho, acompanhado de paisagens impressionantes
e das necessárias explicações sobre o contexto histórico. Também
os visionei a todos e recomendo-os vivamente – basta ir à página
da TVE, ambas as séries estão disponíveis em streaming.
José María Pérez esteve na origem da
Fundación Santa María la Real del Patrimonio Histórico, e, entre
os seus muito projectos culturais destaca-se a Enciclopedia del
Románico en la Península Ibérica (leia-se Espanha). Não será
portanto uma surpresa que, nesta sua primeira incursão pela
literatura, tenha escolhido por tema e cenário a época histórica
na qual se especializou, com este Esperando al Rey, vencedor
do Prémio Afonso X o Sábio de Novela Histórica em 2014.
Passado entre 1141 e 1180, o enredo
centra-se basicamente na condessa Teresa Fernandes de Trava, filha de
Teresa de Leão e de Fernão Peres de Trava (o que faz dela meia-irmã
de Afonso Henriques – nesta época, todos os soberanos dos reinos
peninsulares eram irmãos, primos ou de parentesco muito próximo),
desde a sua infância até à vida adulta. Acompanha-se o final do
reinado de Afonso VII de Leão e Castela, a divisão do seu reino
pelos filhos Fernando II de Leão e Sancho III de Castela (uma vez
mais se manifestou essa incompreensível e tão espanhola tendência
à dispersão). Com a morte prematura de Sancho III e a passagem do
título ao seu filho Afonso VIII, com apenas três anos de idade, os
onze anos seguintes acompanham a regência até à maioridade do rei,
coroado aos 14 anos. O regente de Castela era, nessa altura, Nuno
Peres de Lara, casado com Teresa que, após a sua morte, se casou em
segundas núpcias com Fernando II. Sobre este pano de fundo
espraia-se uma narrativa viva e fluida acerca da vida medieval nesta
parte da Hispânia, com um enfoque muito particular no surto românico
– as obras da catedral de Santiago de Compostela servem algumas
vezes de cenário –, e o seu enquadramento na sociedade de então.
Después de que el
legado del papa terminara su predicación al grito de «¡Dios lo
quiere!», se levantó vacilante el emperador.
—En nombre de Dios
Todopoderoso —declaró solemnemente—, que ha creado todo lo que
vemos y no vemos, yo, Alfonso, emperador de toda Hispania, os pongo a
todos vosotros como testigos para que, cuando yo falte, se repartan
los reinos que me pertenecen del siguiente modo: a mi hijo
primogénito Sancho le corresponde....
Por un instante le pasaron
por la cabeza todos los avatares del reino y las dudas se le
agarraban a la garganta. «Sancho es prudente y diplomático, pero es
enfermizo, tiene mal de estómago y no termina de curar un catarro
cuando otro le sobreviene. Fernando es atolondrado. Primero se lanza
y luego lo piensa... o no lo piensa y se olvida y a otra cosa. Si
Fernando tuviera la sensatez y la prudencia de Sancho o Sancho la
valentía y la fortaleza de Fernando, de cualquiera de ellos
sacábamos un magnífico sucesor. Dividir el reino, tal y como me
aconsejaron los condes Manrique de Lara y Fernando de Traba, me
pareció lo más conveniente entonces, pero ahora que nos atacan los
almohades... no sé qué pasará cuando yo falte. Si no le dejara el
reino de León, sería capaz de matar a Sancho y se quedaría con
todo como el abuelo».
La emoción le ahogaba,
tenía la garganta reseca y las toses que ensayaba no le libraron de
la afonía. Como los murmullos llegaban de todos los rincones de la
basílica, pasó el documento al canciller y le señaló por gestos
que leyera bien alto para que nadie tuviera dudas de cuáles eran sus
designios.
—Con la venia del
emperador: «A mi hijo primogénito Sancho le corresponde toda
Castilla con las villas de Segovia y Ávila y todas las tierras al
sur del Duero, y todas las villas, castillos y tierras que están
detrás de la sierra y también el reino de Toledo... Y además, la
Tierra de Campos hasta Sahagún».
—Esto no era lo que yo
esperaba —murmuró entre dientes Fernando con un gesto de
contrariedad que no pudo disimular—. De un plumazo ha regalado el
pan de mi reino al imbécil de mi hermano.
—«Y a mi hijo el rey
don Fernando —continuó el canciller— le asigno Asturias y toda
Galicia, Zamora, Toro y todo el reino de León».
Sancho, que se había
quedado sin la mitad de la herencia que le correspondía como
primogénito, tampoco estaba satisfecho a pesar del regalo del
granero del reino, pero se consoló al ver la cara de estupefacción
de su hermano.
Pero la frontera entre los
reinos de León y de Castilla, llana y sin ríos o cordilleras que la
delimitasen, era de difícil trazado. Nada se decía del reparto de
las tierras de infieles que se conquistaran en el futuro. Y este
podía ser un motivo más de fricciones entre los reinos.
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