Mary W. Shelley
Frankenstein:
or, The Modern Prometheus (1818)
Li há muitos anos
um livro de Brian Aldiss intitulado Frankenstein Libertado,
onde, por um desarranjo na estrutura temporal, o tempo presente
(desse livro) se ligava à época e ao lugar, algures na Suíça, em
que Mary Shelley escrevia este Frankenstein, e ainda fazia
coexistir nessa realidade o produto da imaginação da escritora. Um
livro um tanto estranho, mas que dava a entender, a quem o não
soubesse, que todo o universo cinematográfico criado à volta deste
tema tinha pouco a ver com a literatura de Mary Shelley. Poucos terão
reparado, por exemplo, que Frankenstein não é o nome do monstro,
mas sim o do seu criador.
Frankenstein:
or, The Modern Prometheus, que celebra este ano o bicentenário
da sua edição original, foi publicado quando Mary Shelley tinha
cerca de 20 anos. O livro inicia-se com quatro cartas escritas por
Robert Walton e dirigidas à sua irmã em Inglaterra; Walton está em
viagem rumo ao Pólo Norte, à procura de uma passagem marítima que
ligue o Atlântico ao Pacífico, descrevendo a exploração como o
sonho de uma vida. Na última das cartas narra a visão de um
avantajado vulto a trenó sobre os gelos ao que se seguiu o encontro
com um desesperado viajante, salvo do deserto gelado; mais tarde esta
estranha personagem, escutando o modo arrebatado como Robert Walton
se pronuncia sobre os seus objectivos, decide contar a sua própria
história, e o modo como uma obsessão semelhante pela descoberta lhe
destruiu a vida. Segue-se o primeiro capítulo, tomando o fio
narrativo, a partir de então, o próprio dr. Victor Frankenstein em
relato autobiográfico.
Frankenstein, um
estudante universitário apaixonado pelas ciências, descobre a forma
de transmitir vida a um ser inanimado e constrói, no seu
laboratório, um corpo humano em escala ampliada – por lhe
facilitar o trabalho nos pormenores. No momento em que a criatura é
trazida à vida, Frankenstein toma consciência da abominação que
praticou e acaba por fugir, desorientado. Não volta a ver o
resultado do seu trabalho e, após um período de doença nervosa,
retoma a vida normal, depois de abandonar os estudos.
Porém a grotesca
criatura procura o seu criador e acaba por encontrá-lo. Do Capítulo
11 ao 16 ela toma o discurso directo e descreve-lhe o que tem sido a
sua vida, revelando-se um ser sensível e inteligente que deseja
atenção e simpatia, mas cujo aspecto disforme repugna e afasta
quantos o vêem, motivando agressões e perseguições. Considerando
que Frankenstein tem, como seu criador, uma obrigação e uma dívida
para consigo, a criatura apresenta-se para a cobrança...
Frankenstein:
or, The Modern Prometheus, apresentado frequentemente como
“leitura de terror” ou como um “romance gótico”, é
desvalorizado por essas etiquetas redutoras. Trata-se, na verdade, de
Romantismo literário em estado puro (no seu período final), onde o
leitor, curioso e impaciente, aguarda que lhe sejam descritas as
circunstâncias que levaram à cena descrita na quarta carta de
Walton, o qual retoma a palavra no desfecho do livro.
I
fear, my friend, that I shall render myself tedious by dwelling on
these preliminary circumstances; but they were days of comparative
happiness, and I think of them with pleasure. My country, my beloved
country! who but a native can tell the delight I took in again
beholding thy streams, thy mountains, and, more than all, thy lovely
lake!
Yet,
as I drew nearer home, grief and fear again overcame me. Night also
closed around; and when I could hardly see the dark mountains, I felt
still more gloomily. The picture appeared a vast and dim scene of
evil, and I foresaw obscurely that I was destined to become the most
wretched of human beings. Alas! I prophesied truly, and failed only
in one single circumstance, that in all the misery I imagined and
dreaded, I did not conceive the hundredth part of the anguish I was
destined to endure.
It
was completely dark when I arrived in the environs of Geneva; the
gates of the town were already shut; and I was obliged to pass the
night at Secheron, a village at the distance of half a league from
the city. The sky was serene; and, as I was unable to rest, I
resolved to visit the spot where my poor William had been murdered.
As I could not pass through the town, I was obliged to cross the lake
in a boat to arrive at Plainpalais. During this short voyage I saw
the lightning playing on the summit of Mont Blanc in the most
beautiful figures. The storm appeared to approach rapidly, and, on
landing, I ascended a low hill, that I might observe its progress. It
advanced; the heavens were clouded, and I soon felt the rain coming
slowly in large drops, but its violence quickly increased.
I
quitted my seat, and walked on, although the darkness and storm
increased every minute, and the thunder burst with a terrific crash
over my head. It was echoed from Saleve, the Juras, and the Alps of
Savoy; vivid flashes of lightning dazzled my eyes, illuminating the
lake, making it appear like a vast sheet of fire; then for an instant
every thing seemed of a pitchy darkness, until the eye recovered
itself from the preceding flash. The storm, as is often the case in
Switzerland, appeared at once in various parts of the heavens. The
most violent storm hung exactly north of the town, over the part of
the lake which lies between the promontory of Belrive and the village
of Copet. Another storm enlightened Jura with faint flashes; and
another darkened and sometimes disclosed the Mole, a peaked mountain
to the east of the lake.
While
I watched the tempest, so beautiful yet terrific, I wandered on with
a hasty step. This noble war in the sky elevated my spirits; I
clasped my hands, and exclaimed aloud, ‘William, dear angel! this
is thy funeral, this thy dirge!’
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