Michael Derrick
The Portugal of Salazar (1938)
Não há muita informação disponível
sobre Michael Derrick e não sei se este livro alguma vez foi
publicado em Portugal — desde logo não aparece nas pesquisas da
Biblioteca Nacional. Foi editado em Londres pela Paladin Press em
1938, pela Campion Books Ltd. em 1939, em Nova Iorque, e tem outras
edições posteriores em língua inglesa. Em Portugal, onde polulam
as publicações folhetinescas sobre os aspectos mais frívolos da
vida de Oliveira Salazar, por regra fantasiosas e sem um mínimo de
investigação credível, seria certamente bem-vinda uma tradução
cuidada desta peça histórica. Mas os livros relevantes sobre o
antigo estadista são extremamente raros, e até a sua obra escrita
(fundamentalmente discursos) se encontra arredada dos escaparates,
remetida a uma quase clandestinidade.
The Portugal of Salazar foi
escrito por Michael Derrick aos 23 anos, durante um período de
convalescença passado na Hungria. Depois de estudar em Oxford, e
sempre ligado ao jornalismo católico, foi editor assistente do
londrino The Tablet e, mais tarde, editor do Dublin Review,
também de Londres. Poucos meses antes da sua morte, em 1961,
tornara-se correspondente do L'Osservatore Romano.
Assumido simpatizante do Estado Novo,
Michael Derrick propôs-se, neste livro, desmistificar a propaganda
comunista hostil ao regime, que grassava internacionalmente na
esteira da Guerra Civil Espanhola, nas vésperas de uma pressentida
guerra mundial, tentando explicar o pensamento e a obra de Oliveira
Salazar. É ao mesmo tempo a perspectiva de um estrangeiro, após o
décimo aniversário da Revolução Nacional, impressionado pelo bom
desempenho do regime e que se interessa sobretudo pela construção
do Estado Corporativo, reconhecida peculiaridade entre os regimes da
direita autoritária que então se tinham espalhado pela Europa. E é
forçoso assinalar que um jovem, no início da sua carreira
profissional, concluiu acertadamente o que muitos historiadores
encartados, do alto das suas cátedras carunchosas, nunca conseguirão
enxergar, por obtusidade manifesta — que o Estado Novo não era um
regime “fascista”. As afinidades do regime português com o
modelo posto em prática por Benito Mussolini são residuais; basta o
lema do duce — tudo no estado, nada fora do estado, nada
contra o estado — para comprovar que o Estado Novo era uma
coisa completamente diferente, pois propunha um estado mínimo e
tinha horror à burocracia. As grandes influências de Oliveira
Salazar residiam nas encíclicas papais (de Leão XIII e do seu
sucessor, Pio X) e na doutrina social da Igreja; era crítico do
liberalismo e do capitalismo, e o seu modelo económico voltava-se
para a recuperação e actualização do corporativismo medieval —
um corporativismo integral, de associação (e não exclusivamente
económico, de estado, ao modo italiano), recusando a luta de
classes, na procura do bem comum de empregadores e assalariados.
O excerto escolhido pertence ao
capítulo em que o autor dá o contexto que gerou o 28 de Maio: a
oligarquia liberal-maçónica que, durante o séc. XIX e o primeiro
quarto do séc. XX, capturou o Estado para os seus próprios
interesses, impôs ideais e condutas alheios à Nação e fez da
República a poção salvadora, mesmo que imposta a balas e sangue;
após 16 anos de violência extremista oferecida à sociedade em nome
da “democracia”, o povo acolheu a “ditadura” com alívio,
como um regresso à normalidade e à prosperidade... Mas, diz uma
expressão inglesa, a ferrugem nunca dorme. Fica ainda uma última
citação de Oliveira Salazar (a António Ferro): "You cannot
imagine how difficult it is to wake up our sleepy and apathetic
race". Ontem como hoje.
In Portugal, as in Spain,
Parliamentary government on the English pattern has always meant a
chaos of camarillas and caciquismo,
corruption, rotativism and revolution; it has meant the creation of a
class of professional politicians preying on the people: a travesty
of democracy screening the machinations of profiteers. That will seem
like a sentence of excited exaggeration until the political history
of Portugal in the nineteenth century comes to be written in English.
English electioneering methods of the eighteenth do not bear
comparison with those of Portugal. The electorate in 1871 was less
than seven per cent of the population, and was wholly controlled, not
by bribes, as in the good old English fashion, but by local "bosses."
The Portuguese of the
years before 1926 cared little and knew less about what went on at
San Bento, where the Còrtes sat, and where (as he was always told)
he was the ultimate controlling influence. "As disorder followed
disorder, he turned himself always more deeply towards his wife and
his children, his house, his daily work, the field, the garden, the
forest. These things had been known to his parents, to his
grandparents, and to his ancestors through the ages, who had
successively dug the soil, cultivated the vine and the patch of
maize, reared children, suffered . . ." What use was the "vote"
to him? He was, and remains, an incorrigible illiterate, concerned
only with the realities of life, with hardship and the soil, and with
eternity.
"If Lisbon turns Turk
to-morrow, all Portugal will wear the Fez," wrote the novelist
Eça de Queiroz. Too often has the voice of the Lisbon mob been taken
for the voice of Portugal. It was republican Lisbon that made
Portugal a Republic in 1910; and the reasons why Lisbon was
republican have been told in an earlier chapter. Only a few months
previously King Manoel had made a journey through the country
districts of Beira "which in some places became a triumphant
progress, the peasants pressing eagerly to welcome their King."
But Lisbon turned Turk, and Portugal accepted, unprotesting,
unknowing. For the last Ministry of the Monarchy, the elections of
August 28, 1910, returned 14 Republicans among 144 deputies. Of these
14, 10 came from Lisbon. And when the Republic was proclaimed, the
millions of Portuguese knew nothing of the matter, had no more hand
in it than they had ever had in the affairs of Portugal, and were
concerned in it only in so far as the fantastic confusion into which
Portuguese politics were immediately plunged had its effect upon
their daily lives.
The constant succession of
revolutions between 1910 and 1926 were exclusively political in
character, and were unnoticed outside Lisbon: the general
disappearance of administrative order and the general rise in the
cost of living continued steadily and without interruption. In 1926
the country rose: we have told the story already.
The Government that then,
in the name of the nation, took control of affairs was a
dictatorship. It was a dictatorship in the Roman sense of the word:
that is, a Government that had seized temporary absolutism to meet a
national emergency. It was certainly not a dictatorship in the modern
sense of a tyranny: it represented a release from tyranny, from the
intolerable tyranny of the professional politicians and the local
bosses.
Ningún comentario:
Publicar un comentario