27 de setembro de 2025

The Strange Death of Europe


Douglas Murray
The Strange Death of Europe (2017)

Os principais factos que Douglas Murray aborda em The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam, escritos sobre o acontecimento, têm agora dez ou mais anos, mas nem por isso perderam importância, bem pelo contrário. É um livro de factos, números, estatísticas, não de opiniões ou percepções, apesar dos tabus existentes na recolha de dados baseados na etnicidade. É um livro que incomoda, porque os factos costumam ser teimosos, e desmonta as falácias e as mentiras dos «estudos» com que os governos europeus repetidamente pretenderam — e ainda pretendem — justificar a imigração em massa.
Começa pelo caso britânico, com as primeiras vozes contrárias nos anos 50 e 60 quando a realidade dos números mostrava uma trajectória que inevitavelmente viria a desembocar na situação actual. Todos os alertas foram ignorados quando não silenciados e os mensageiros perseguidos. Instaurou-se um paradigma político e social que floresceu nos 80s e 90s: o «multiculturalismo», que acabou numa política de fronteiras abertas a partir de 1997 e teve como consequência o desequilíbrio demográfico constatado no censo de 2011. As mais desastrosas políticas de imigração tornaram-se impossíveis de questionar pois quem defendia medidas de restrição foi apelidado de «racista», mesmo quando se referia aos «brancos» do leste europeu.
O mesmo foi replicado, com pequenas variações, nos outros países da Europa Ocidental, nomeadamente RFA/Alemanha, Suécia, Holanda e Bélgica e França, a partir do pós-guerra, devido à falta de mão de obra local ou produto da descolonização ultramarina. Uma política que pretendia resolver um problema a curto prazo criou a mais prolongada repercussão, quando o número de entradas previstas foi sempre excedido pela realidade em várias ordens de magnitude, verificando-se ainda uma subestimação dos números oficiais destinada a ocultar o problema.
E, por fim recorda-nos a cadeia de acontecimentos da fatídica década de 2010: o empenho em prol do «mundo sem fronteiras», o efeito chamada, Lampedusa, a operação Frontex, as ilhas gregas, o sul do Mediterrâneo, os navios negreiros das ONGs, Merkel e o boom de 2015, Suécia «superpotência humanitária», Dinamarca, a pressão sentimentalista, a euforia demencial de Refugees Welcome, a endofobia das elites europeias, o terrorismo islâmico, as violações e agressões sexuais, as catastróficas alterações demográficas, a Grande Substituição. É a história da não-integração, ou da impossibilidade de assimilação, o triunfo de culturas alienígenas fortes (leia-se, o Islão) sobre uma cultura nativa fraca e relativista, obcecada pela «culpa» histórica e pela auto-flagelação. Diz-se que os deuses cegam aqueles a quem querem perder. É realmente esta cegueira que se descreve neste livro: o capítulo mais recente da queda da Europa, mas não o último, porque o pior está ainda por acontecer.

The reason people wish to come to Europe is not only because of the perception of wealth and work. It is also because Europe has made itself a desirable destination for additional reasons. Not least among them is the knowledge that Europe is likely to allow arrivals to remain in the continent once there. High among the reasons why people flock to Europe are the knowledge that its welfare states will look aer migrants who arrive, and the knowledge that however long it takes or however poorly migrants may be looked aer they will still enjoy a better standard of living and a better roster of rights than anywhere else, let alone in their home countries. There is also the belief – flattering to Europeans as well as true – that Europe is a more tolerant, peaceful and welcoming place than most parts of the world. If there were many such continents in the world then Europeans might be able to enjoy their status as one generous society among many. If the perception grows that Europe is in fact the only place where it is both easy to get in, easy to remain and safe to stay, then the continent may find the resulting attention less flattering in the long term than it does in the short term. In any case it is not inevitable that the world’s migrants should come to Europe. They come because Europe has made itself – for good reasons and some bad – attractive to the world’s migrants.
[...]
In 2010 Germany had a total of 48,589 people apply for asylum. Just five years later Merkel allowed (if leaked internal estimates from the government were correct) up to 1.5 million people into Germany in the space of one year alone.
If multiculturalism was not working with around 50,000 people claiming asylum in Germany each year, how was it expected to work with thirty times that number coming in each year? If not enough was being done in 2010, how was it the case that five years later the German government’s integration network was so much – indeed thirty times – better? And if Germany had been fooling itself in the 1960s about the return of the guest-workers, how much more was it kidding itself that those applying for asylum in 2015 would return to their homes? If multiculturalism had not been working well in 2010 it was working even less well by 2015. The same goes for Britain. If multiculturalism in Britain had failed when Prime Minister David Cameron said it had, in 2011, why was it any less failed in 2015 when the British government oversaw a new record high of net migration into the country? Was the relationship between France and its immigrant populations better by 2015 than it had been a few years before? Or Sweden’s or Denmark’s? All across Europe the migration surge of 2015 piled further numbers of people into a model that all the existing political leaders had already admitted to be a failure. Nothing noticeable had occurred in the years between to have made the model any more successful than it had been in the past.
[...]
At such times, the gap between what the public can see and what the politicians can conceivably say, let alone do about it, became dangerously large. An Ipsos poll published in July 2016 surveyed public attitudes towards immigration. It revealed just how few people think that immigration has had a good impact on their societies. To the question, ‘Would you say that immigration has generally had a positive or negative impact on your country’, extraordinarily low percentages of people in each country thought that immigration had a positive effect on their country. Britain had a comparatively positive attitude, with 36 per cent of people saying they thought immigration had a very or fairly positive impact on their country. Meanwhile only 24 per cent of Swedes felt the same way and just 18 per cent of Germans. In Italy, France and Belgium only 10–11 per cent of the population thought that immigration had made even a fairly positive impact on their countries.
 

19 de setembro de 2025

Glory Road


Robert A. Heinlein
Glory Road (1963)

Glory Road foi publicado pela primeira vez em The Magazine of Fantasy & Science Fiction, em 1963, e nesse mesmo ano apareceu em livro. É uma obra um tanto diferente do habitual em Heinlein, que dificilmente se pode considerar FC, apesar da nomeação para o prémio Hugo em 1964. O ambiente é mais próprio da novela fantástica, com criaturas esquisitas, lances de "magia" e pentagramas desenhados no chão — apesar de algumas personagens explicarem que aquilo é ciência para além do nosso conhecimento — sendo a narrativa passada em universos paralelos. Notoriamente, algumas ideias foram mais tarde reaproveitadas em The Number Of The Beast.
Aqui temos um protagonista, "Oscar" Gordon (Oscar não é o seu verdadeiro nome, mas o nome que ele escolhe devido a uma cicatriz — scar — que tem no rosto) que acaba o serviço na guerra do Cambodja, onde se alistou por dificuldades financeiras. O seu plano para continuar os estudos numa universidade alemã falha, e vai parar ao sul de França, onde a vida é barata. Aí conhece uma belíssima rapariga, Star, por quem se apaixona, e que o contrata para uma missão em que lhe promete aventura e riqueza. É aqui que entram os universos paralelos, pois é noutro mundo que Gordon, Star e Rufo, seu ajudante, vão em demanda do Ovo da Fénix, um objecto que é necessário recuperar, guardado na Torre de Uma Milha de Altura, num local chamado Karth-Hokesh. Antes de lá chegar é necessário ultrapassar grandes dificuldades, monstros e armadilhas, mas o objectivo é finalmente atingido.
O livro não termina aqui, como seria de esperar, e o seu último terço é, talvez, o mais interessante. Oscar e Star, que se tinham casado no decurso da aventura, vão viver para Center, o planeta de onde ela é oriunda, e desfrutar da recompensa do seu sucesso. Mas a vida faustosa e sem objectivos que Gordon encontra — ele não passa de um herói reformado — deixa-o insatisfeito, além de descobrir que toda a sua vida anterior tinha sido manipulada para o levar a aceitar aquela missão, onde dezenas de outros tinham falhado e morrido. Resolve voltar à Terra, mas também aqui não consegue retomar os estudos ou o trabalho, e acaba por se reconhecer de novo um inadaptado.

"Ready?" asked Star. "Now you two believe, too!" She scrawled with her finger in the sand. "Go!"
We went. Once in the air, I realized what a naked target we were—but we were a target on the ground, too, for anyone up on that tower, and worse if we had hoofed it. "Faster!" I yelled in Stars ear. "Make us go faster!"
We did. Air shrilled past our ears and we bucked and dipped and side-slipped as we passed over those gravitational changes Star had warned me about—and perhaps that saved us; we made an evasive target. However, if we got all of that guard party, it was possible that no one in the Tower knew we had arrived.
The ground below was gray-black desert surrounded by a mountain ringwall like a lunar crater and the Tower filled the place of a central peak. I risked another look at the sky and tried to figure it out. No sun. No stars. No black sky nor blue—light came from all over and the "sky" was ribbons and boiling shapes and shadow holes of all colors.
"What in God's name land of planet is this?" I demanded.
"It's not a planet," she yelled back. "It's a place, in a different sort of universe. It's not fit to live in."
"Somebody lives here." I indicated the Tower.
"No, no, nobody lives here. That was built just to guard the Egg."
The monstrousness of that idea didn't soak in right then. I suddenly recalled that we didn't dare eat or drink here—and started wondering how we could breathe the air if the chemistry was that poisonous. My chest felt tight and started to burn. So I asked Star and Rufo moaned. (He rated a moan or two; he hadn't thrown up. I don't think he had.)
"Oh, at least twelve hours," she said. "Forget it. No importance."
Whereupon my chest really hurt and I moaned, too.
We were dumped on top of the Tower right after that; Star barely got out "Amech!" in time to keep us from zooming past.
The top was flat, seemed to be black glass, was about two hundred yards square—and there wasn't a fiddlewinking thing to fasten a line to. I had counted on at least a ventilator stack.
The Egg of the Phoenix was about a hundred yards straight down. I had had two plans in mind if we ever reached the Tower. There were three openings (out of hundreds) which led to true paths to the Egg—and to the Never-Born, the Eater of Souls, the M.P. guarding it. One was at ground level and I never considered it. A second was a couple of hundred feet off the ground and I had given that serious thought: loose an arrow with a messenger line so that the line passed over any projection above that hole; use that to get the strong line up, then go up the line—no trick for any crack Alpinist, which I wasn't but Rufo was.
But the great Tower turned out to have no projections, real modern simplicity of design—carried too far.
The third plan was, if we could reach the top, to let ourselves down by a line to the third non-fake entrance, almost on level with the Egg. So here we were, all set—and no place to hitch.


Li anteriormente:
The Rolling Stones (1952)
To Sail Beyond The Sunset (1987)
The Cat Who Walks Through Walls (1985) 

8 de setembro de 2025

A Túlipa Negra


Alexandre Dumas
A Túlipa Negra (1850)

Passado na Holanda da segunda metade do século XVII, esta novela clássica de Alexandre Dumas parte de alguns factos históricos, como o assassínio e linchamento de Johan De Witt e do irmão Cornelis De Witt, resultado do confronto entre a facção republicana e o movimento orangista, que pretendia o restabelecimento do poder real. Para colocar a trama em movimento temos Cornélio Van Baerle, afilhado do segundo, a quem foram confiadas certas cartas comprometedoras da autoria do primeiro, das quais Von Baerle, um jovem na posse de uma herança muito confortável, não tem conhecimento do conteúdo, interessando-se apenas pelo cultivo das tulipas.
Nessa altura a sociedade tulipista de Harlém oferece um considerável prémio monetário a quem conseguir cultivar uma orquídea negra, tarefa à qual se dedica Cornélio, bem como o seu invejoso vizinho Isaac Boxtel. Este sem meios financeiros para competir com Cornelio, passa a observar todos os seus movimentos com um telescópio e arquitecta um plano para se apoderar do seu esforço. Como espiou a entrega do maço de cartas, delata Cornélio que é julgado e preso; mas, sem conseguir deitar a mão aos bolbos dos quais nascerão as tulipas negras, muda de identidade, passa a chamar-se Jacob Gisels e segue no encalço de Cornélio que, na prisão, e com a ajuda de Rosa, a bela filha do carcereiro, por quem se apaixona, vai tentar criar a tulipa negra e ganhar o prémio.
As peripécias que se seguem são divertidas e a leitura absorvente, com o inevitável desenlace feliz.
Apesar do livro referir o preço elevado a que se transaccionavam os bolbos das tulipas naquela época, não faz referência ao estouro da bolha especulativa da tulipa, em 1637, o primeiro crash financeiro documentado — isso é que dava uma história edificante...

Assim é que, para se fazer uma ideia de um condenado esquecido por Dante, cumpria ver Boxtel durante este tempo. Enquanto Van Baerle sachava, estrumava, humedecia os seus alegretes, enquanto ele, de joelhos em cima do declive de relva, analisava cada veia da túlipa sua florescência e meditava nas modificações que se lhe podiam fazer, nas combinações de cores que se podiam experimentar, Boxtel, escondido por detrás de um sicômoro pequeno que plantara ao pé do muro e que lhe servia como de leque, seguia, com os olhos entumecidos, a boca escumando, cada passo, cada atitude do seu vizinho; e quando julgava vê-lo alegre quando o apanhava a sorrir, quando lhe lobrigava um raio de felicidade nos olhos, enviava-lhe tantas pragas, tantas ameaças furibundas, que se não poderia imaginar como estes hálitos empestados de inveja e de cólera não iam infiltrando-se nas hastes das flores, levar-lhes princípios de decadência e germes de morte.
Em breve, porém, tão rápidos são os progressos que faz o mal quando se apodera da alma humana, Boxtel não se contentou com ver somente Van Baerle. Também quis ver as suas flores; porque como era um verdadeiro artista, a obra-prima de um rival não podia ser para ele coisa de pouca monta.
Comprou um telescópio, com o auxílio do qual, tão bem como o próprio proprietário pôde acompanhar todas as evoluções da flor, desde o momento em que lança, no primeiro ano, o seu pálido rebento fora da terra, até àquele em que, depois de ter completado o seu período de cinco anos, arredonda o nobre e gracioso cilindro, sobre o qual aparecem as incertas mostras da sua cor e se desenvolvem as pétalas da flor, que só então revela os tesouros mais secretos do seu cálix.
Oh! Quantas vezes o desgraçado invejoso, empoleirado na sua escada, lobrigou nos alegretes de Van Baerle umas túlipas que o cegavam com a sua beleza e o sufocavam com o seu delicioso perfume!
Nestas ocasiões, passado o período de admiração que não podia vencer, Boxtel sentia-se atacado pela febre da inveja, essa enfermidade que lacera o peito e que transforma o coração em miríades de pequenas serpentes, que se devoram umas às outras, origem infame das mais horríveis dores.
Quantas vezes, no meio dos seus tormentos, de que nenhuma descrição poderia dar uma cabal ideia, Boxtel teve a tentação de saltar de noite ao jardim do seu vizinho, destruir as plantas, devorar as cebolas com os dentes e sacrificar o próprio dono, se este ousasse defender as suas túlipas.
Mas matar uma túlipa é, aos olhos de um verdadeiro horticultor, um crime tão espantoso!
Matar um homem, ainda passava.