Ricardo de la Cierva
Historia Total de España (1997)
O meu interesse por Espanha foi tardio.
Como muitos portugueses, partilhei o reflexo de condicionalismos
culturais e históricos que nos deixaram indiferentes ou de costas
voltadas ao nosso único vizinho fronteiriço. Tinha obviamente
consciência do enorme contributo artístico, cultural e
civilizacional dado por Espanha ao mundo ocidental, mas quando, um
dia, me lembrei de contar quantos autores espanhóis tinha lido até
então, verifiquei que eram menos do que os dedos de uma mão (mesmo
com os hispano-americanos não seriam muito mais). Pior ainda, mal
conseguia lembrar-me do nome de outros! Deve ter sido então que me
resolvi a preencher essa lacuna; decidi posteriormente aprender o
necessário espanhol para conseguir ler na língua original; e como
umas coisas trazem as outras, chegou a altura de considerar a
necessidade de ter uma lição aprofundada da História de Espanha.
Depois de me inteirar das diversas
possibilidades ao alcance, escolhi esta Historia Total de España,
de don Ricardo de la Cierva, porque me pareceu a mais credível
e rigorosa. Editada pela primeira vez em finais de 1997, a edição
que possuo é a 14.a que segue a última revisão e actualização de
2008. E a escolha não podia ter sido mais acertada.
Para quem se questiona sobre o "total"
no meio da História de Espanha, a explicação é simples: "porque
Espanha é uma totalidade histórica, uma convergência de vários
reinos e vários povos com um substrato e um horizonte comum, sem que
a ninguém seja lícito prescindir das particularidades regionais nem
esquecer-se absurdamente do conjunto e da vertebralidade de todas
elas". Ricardo de la Cierva confronta os seus compatriotas com o
risco de perda desse horizonte histórico, o que faz perigar a nação
espanhola, e afirma ainda: "A História não deve ser nunca
instrumento da política, apesar da política, num país
sobrecarregado de tanta História como a Espanha, trate demasiadas
vezes de instrumentalizar a História."
Este é um livro que muitos
portugueses deviam ler. E também, sobretudo, os espanhóis. São
mais de 1000 páginas empolgantes e afirmativas que me renderam
algumas semanas de prazer, entre a narração de factos para mim mais ou menos
conhecidos, outros mais ou menos obscuros, ou outros ainda que eu desconhecia totalmente.
Poderia ter escolhido, para o excerto
que se pode ler abaixo, uma das páginas douradas da História de
Espanha – e são tantas que a dificuldade seria escolher. Ou então
as lições que se podem retirar das trágicas consequências levadas
pela Revolução Francesa à nação espanhola, que, assolada por uma
decadência veloz, culminaram na desastrosa Guerra Civil de 1936. Ou
ainda sobre o papel providencial desempenhado por Francisco Franco, que em
três décadas fez ressuscitar Espanha e a devolveu a um nível
impensável quando assumiu o poder. Ou as reflexões sombrias que o
autor faz, justificadamente, nas últimas páginas sobre o futuro da
Espanha. Preferi colocar um texto onde se analisa a tripla perda de
Espanha (depois das invasões bárbaras do séc. V e, novamente, com
a invasão árabe de 711). Um texto para reflectir.
A lo largo de la Historia,
España se perdió dos veces. Creo muy importante fijar con precisión
cómo sucedieron esas dos pérdidas de España porque por desgracia
cuando se escribe este libro muchos españoles tenemos la angustiosa
impresión de que España se puede estar perdiendo, ante nuestros
ojos, por tercera vez. Por lo pronto, como se reconoce desde el
propio Gobierno actual, según veíamos en la Introducción, se está
perdiendo, en el cuarto de siglo final del siglo XX, y en algunos
casos se ha perdido ya, la Historia de España. Por las noticias
diarias de la Prensa y otros medios de comunicación cunde la
conciencia de que con todas estas zarandajas de las «nacionalidades»,
del «Estado plurinacional» y de «España como nación de naciones»
que son insignes bobadas y disparates históricos, aunque las acepten
grandes políticos y notables historiadores, se está perdiendo la
nación española, que como tal figura varias veces en la
Constitución vigente y se están exaltando oficialmente otras falsas
naciones menores que jamás fueron naciones, como la catalana, ni
podrán serlo sin la pérdida de España, la tercera. Se exaltan los
nacionalismos regionales y se abomina del «nacionalismo español»,
es decir de la Nación Española, única que existe en España. El
término «nacionalidades» se incluyó en la Constitución por el
chantaje separatista pero como explicó el portavoz de UCD en el
Senado constituyente, el término «nacionalidades» no es sinónimo
de «naciones» es decir no significa absolutamente nada. Pese a lo
cual se han solicitado y creo que aprobado la elevación a
«nacionalidades» de algunas regiones como Galicia, Aragón,
Andalucía y Valencia. El autor de este libro que intervino
decisivamente en el Senado Constituyente de 1978, junto con el
profesor Julián Marías, para introducir en la Constitución el
término «Nación Española» que se le había «olvidado» a la
Ponencia Constitucional del Congreso, se ve en la obligación de
declarar que el actual gobierno de centro-derecha, que por deber
sagrado debería sentirse depositario de la más honda tradición
nacional de España, descuida lamentablemente sus deberes en la
defensa de la Nación española por rastreros motivos de pactos
electorales con los nacionalistas y no hace nada serio para defender
a España, a la Nación y a la Historia de España ante los zarpazos
de esos nacionalistas, pese a sus promesas formales y su proclamación
de España en la campaña electoral de 1996. Este libro se escribe en
defensa de la Historia de España y de España como nación, para
contribuir a que la gran mayoría de españoles que creemos en España
no suframos ante nuestros ojos la tercera pérdida de España.
Ningún comentario:
Publicar un comentario