Poul Anderson
O Avatar (1978)
De Poul Anderson, um autor
estado-unidense com inúmeros títulos publicados e razoavelmente
conhecido nos meios FC, já tinha lido meia dúzia de livros – o
último dos quais há mais de 20 anos. Desses seis livros, apenas um
não tinha sido editado nos anos 50 e, ao decidir ler O Avatar,
sabia que corria um certo risco: em 1978 a Era Dourada da FC tinha
ficado muito para trás, e as críticas ao livro eram globalmente
desfavoráveis, tanto ao nível do argumento como da extensão do
texto. Foi por isso com baixas expectativas que me dediquei à
leitura desta obra.
O argumento parte de uma ideia
recorrente na literatura deste género: o ser humano encontra uma
máquina alienígena que lhe permite fazer viagens interplanetárias,
mesmo sem entender o seu princípio de funcionamento. Neste caso
particular, inspirado por alguma especulação científica da época
acerca da utilização do força gravitacional como forma de dominar
o espaço-tempo, conforme se explica no prefácio.
A história inicia-se num ponto em que
o ser humano coloniza já um segundo planeta, Deméter, após ter
encontrado uma máquina T no Sistema Solar. Essa máquina T,
encontrada numa órbita estável, com uma mensagem de boas-vindas,
permite o acesso a Deméter no Sistema de Febo, uma espécie de
«oferta» dos Outros, nome que designa os seus desconhecidos
construtores. E embora o método de acesso a Deméter e o regresso à
Terra tenha sido revelado, todas as outras tentativas humanas na
procura de outros destinos, com sondas enviadas pelas máquinas T,
fracassaram.
A trama complica-se no momento em que
uma nave de exploração, guiada por uma nave alienígena, consegue
fazer o percurso de ida e volta ao Sistema de Febo, depois de
conseguir o contacto e a ajuda desses alienígenas: os betanos –
também simples utilizadores das máquinas T, embora um pouco mais
evoluídos tecnologicamente do que os humanos. Uma facção política
da Terra (e Deméter) na posse dessa informação, esforça-se por
mantê-la secreta a todo o custo, por considerar que a descoberta
iria desviar os recursos da humanidade e dispersá-los na exploração
espacial.
É aqui que entra em acção Dan
Brodersen, que com uma pequena nave e uma tripulação composta de
alguns fiéis e de elementos resgatados à nave de exploração já
mencionada, decide arriscar tudo para divulgar a verdade que os
políticos desejam ocultar. Afrontando forças poderosas, decide
fugir num rumo desconhecido, através da máquina T, o que dá origem
a um périplo por uma série de mundos, na procura dos Outros, e da
própria sobrevivência.
O Avatar é, de facto,
desnecessariamente extenso; alguns capítulos poderiam ter sido
cortados sem se perder nada de essencial. Com metade das páginas, e
despojado de uma certa pseudo-espiritualidade que o autor nos tenta
impingir, O Avatar podia ter sido bem mais interessante.
Trevas, nada. Negrura e absoluto.
Aquela gente lamentava-se numa espécie de terror.
As balizas em torno da máquina T não
eram candeias — vermelha, violeta, esmeralda, âmbar — acesas na
maldita escuridão. Brilhavam perdidas e débeis, como se de um
momento para o outro se pudessem apagar. Depois ao longe, no meio de
luzes mais frouxas que mal se viam, os olhos descobriam um simples
ponto de luz.
— Acalma-te — ordenava uma parte de
Joelle que ela destacava de si mesmo para isso. — Não corremos
perigo imediato. Vou investigar.
Reunificou a sua mente. Com os órgãos
da nave e com os seus próprios sentidos começou a desbravar o
desconhecido.
O radar trouxe-lhe a imagem daquele
cilindro a girar. Era o maior que até aí haviam encontrado. Na
ausência de gravidade, Joelle sentia, apesar de tudo, aquela massa e
a energia que ela continha. Os meios ópticos e a rádio, vastamente
ampliados, mostravam-lhe estrelas espalhadas em pequeno número e por
largas distâncias, como brasas já a cobrirem-se de cinzas, a
caminharem para a extinção. Em torno do casco era quase o vácuo
total. Toda a radiação e todas as partículas materiais que ela
conhecia tinham desaparecido quase por completo, deixando uma
cavidade a que não fazia sentido chamar vazia ou fria. Joelle
procurou e encontrou galáxias próximas, tão calcinadas como esta.
As suas formas eram caóticas. Joelle tentou encontrar agrupamentos
completos delas, e teria possibilidade de vislumbrar algumas das mais
próximas, tais como as do grupo da Virgo, pelos derradeiros fotões
que houvessem irradiado; mas não conseguiu. Haviam desaparecido
demasiado rapidamente.
A atenção de Joelle voltou-se de novo
para o que mais próximo a rodeava. Os instrumentos haviam acumulado
dados suficientes para ela deduzir que a máquina girava em órbita
em torno de um sol completamente extinto. Semelhante ao Sistema
Solar, ele nunca tinha explodido, por ser demasiado pequeno, mas
passou pelas fases de gigante vermelho e por outras fases variáveis,
contraiu-se até ficar um globo do tamanho de um planeta de densidade
máxima, onde os átomos podiam ainda continuar a ser átomos, e
arrefecer lentamente, de calor branco para uma massa de escórias.
Ficaram alguns verdadeiros planetas, rochas nuas ou cobertos pelas
suas próprias atmosferas geladas.
Salvo um...
Joelle lembrou-se de que tinha de
descer das alturas para dizer à sua gente aquilo que havia sido
revelado dentro dela.
— Estamos no futuro remoto...
Espacialmente, de novo no interior da galáxia, mas no tempo qualquer
coisa entre setenta e cem biliões de anos depois de termos nascido.
Não restam mais estrelas vivas a não ser as mais pálidas
(bem-aventurados os simples porque deles é o reino dos céus) e
estão agora a morrer, enquanto a própria galáxia se está a
desintegrar. O universo expandiu-se e atingiu quatro ou cinco vezes
as dimensões que tinha nos nossos dias. Se avançarmos muito ainda,
julgo que saberemos se ele realmente se continuará a expandir para
todo o sempre ou se, no fim de contas, é verdadeira a velha ideia de
que acabará por implodir, retraindo-se para o interior de si mesmo e
transformando-se em nova bola de fogo e em novo cosmos.
Li anteriormente:
Essas Estrelas
São Nossas (1959)
A Hora da
Inteligência (1954)
Espião
Interestelar (1966)
Ningún comentario:
Publicar un comentario