Louis Pauwels & Jacques Bergier
O Despertar dos Mágicos (1960)
A ideia inicial de Louis Pauwels, um escritor e jornalista francês
com interesses místicos, era escrever um livro sobre as sociedades
secretas; do seu encontro com Jacques Bergier, também escritor e
jornalista, nascido na Rússia e de ascendência judia, resultou um
alargamento do âmbito temático da obra, abarcando a alquimia, as
civilizações desaparecidas, o esoterismo, a parapsicologia e até,
sob outra designação, o trans-humanismo. Le Matin des Magiciens,
no título original, foi um sucesso de popularidade na sua época,
ajudou a dar visibilidade a assuntos até então marginais, e levou à
publicação de uma revista bimensal sobre a mesma temática,
Planète, que alcançou uma tiragem de 100 mil exemplares no
seu apogeu, embora tenha deixado de se publicar em 1968.
Com o subtítulo "Uma introdução ao realismo fantástico",
o livro defende a existência de um segundo plano da realidade,
oculto sob a aparência do senso comum, das convenções
estabelecidas e das versões oficiais; ele seria, na verdade, uma
supra-realidade capaz de se revelar ao observador capaz de
ultrapassar os preconceitos vigentes e de examinar os factos de mente
aberta. Como reacção a uma ciência mecanicista e determinista,
vinda do séc. XIX, o livro ampara-se nos conceitos não-euclidianos
das ciências do séc. XX (relatividade, física quântica) para
suportar a designada "pseudociência". No entanto, algo
contraditoriamente, uma quarta parte do livro é dedicada à
demolição do "esoterismo nazi", e à aos seus alegados
pressupostos paranormais, sob a forma de propaganda primária,
recorrendo a fontes totalmente desacreditadas (como Hermann
Rauschning), e apresentando as suas principais figuras como dominadas
pela superstição, pela irracionalidade ou pela possessão
demoníaca.
O Despertar dos Mágicos é escrito com um grande
voluntarismo, assumidamente apressado e superficial no tratamento dos
temas, escusando-se na justificação de evitar um volume com
demasiadas páginas, deixando as ideias no ar e desafiando outros
investigadores a entrar pelas portas que, generosamente, no seu
entender, deixa abertas. Resta ainda, a sua previsão de um futuro
próximo cheio de novas ciências, nascidas do encontro do "progresso
científico" com a "metafísica".
Não afirmamos que acreditamos em tudo, mas mostraremos no próximo
capítulo que o campo das ciências humanas é provavelmente muito
mais vasto do que imaginamos. Integrando todos os factos, sem
qualquer exclusão, e aceitando considerar todas as hipóteses
sugeridas por esses factos, sem qualquer espécie de a priorismo, um
Darwin, um Copérnico da antropologia criarão uma ciência
completamente nova se estabelecerem uma circulação constante entre
a observação objectiva do passado e todos os segredos do
conhecimento moderno em matéria de parapsicologia, de física, de
química, de matemática. Talvez lhes pareça que a ideia de uma
constante e lenta evolução da inteligência, de um sempre longo
avançar do saber, não é uma ideia sólida mas um tabu que nós
instituímos para nos supormos beneficiários, hoje, de toda a
história humana.
Qual o motivo por que as civilizações passadas não teriam
conhecido súbitos clarões durante os quais a quase totalidade do
conhecimento lhes teria sido revelada? Por que motivo aquilo que por
vezes se produz numa vida de homem, a inspiração, a intuição
fulgurante, a explosão do génio, não se teria produzido várias
vezes na vida da humanidade? Não interpretamos nós as poucas
recordações desses instantes de uma forma bastante falsa ao falar
de mitologia,de lendas, de magia? Se me mostrarem uma fotografia não
falsificada de um homem flutuando no espaço, não direi: é a
representação do mito de Ícaro, mas direi: é o instantâneo de um
salto ou de um mergulho. Qual o motivo por que não haveria estados
instantâneos nas civilizações?
Vamos citar outros factos, efectuar outras aproximações, formular
outras hipóteses ainda. Haverá sem dúvida muitos disparates no
nosso livro, repetimo-lo, mas isso importa muito pouco se este livro
suscitar algumas vocações e, em certa medida, preparar caminhos
mais amplos à investigação. Não passamos de dois pobres
quebradores de pedras: outros construirão a estrada.