História da Literatura Universal, IV - VI
Vol. IV – As Literaturas no Século XVII (1989)
Vol. V – As Literaturas no Século XVIII (1990)
Vol. VI – O Século XIX - Literatura Romântica (1991)
O Vol. IV é dedicado à literatura barroca, uma derivação da literatura renascentista que floresceu sob formas muito diferenciadas nos diversos estados europeus, e ao classicismo, que pressupunha um regresso aos pressupostos do renascimento. Este tomo abarca o barroco espanhol, italiano, português, inglês, holandês e alemão; debruça-se também sobre o classicismo francês e a literatura inglesa da Restauração. O Vol. V integra o Iluminismo, neoclassicismo e pré-romantismo, com um grande destaque para as literaturas francesa e inglesa; aborda também a literatura portuguesa, espanhola, italiana e alemã, e inclui ainda um resumo acerca do aparecimento das literaturas escandinavas e eslavas: sueca, noruego-dinamarquesa e russa. O Vol. VI refere os diferentes romantismos, por vezes quase antagónicos, surgidos em várias geografias. O maior destaque vai para o romantismo inglês e alemão, seguindo depois pelas literaturas francesa, espanhola, italiana, portuguesa e russa, bem como um resumo do romantismo dinamarquês, escandinavo e eslavo. Inclui depois um capítulo mais alargado dedicado à literatura dos Estados Unidos, e encerra com outro capítulo relativo às literaturas hispano-americanas.
De novo, como exemplo, fica um excerto de cada um dos volumes.
A tradição do Renascimento português, muito rico em obras de natureza histórica e geográfica, ou com pretensões a isso, seria continuada no século XVII e de certo modo completada e fechada na interpretação da sua grandeza e poderio ultramarino iniciado no século anterior.
O mais ambicioso e sintomático dos projectos foi, neste sentido, a redacção da Monarquia Lusitana, primeira tentativa de uma historiografia portuguesa realmente moderna. Concebida e redigida no mosteiro beneditino de Santa Maria de Alcobaça, foi iniciada pelo cronista Frei Bernardo de Brito (1568-1617), que tomou como princípio – num sentido medievalista próprio da redacção eclesiástica – a criação do mundo, recolhendo lendas, tradições e relatos populares. Frei António Brandão (1584-1637) continuou esse trabalho com uma mais rigorosa comprovação das fontes, restaurando em grande parte o sentido da moderna historiografia portuguesa e esse trabalho seria prosseguido por outros monges até ao século XVIII.
A obra do dominicano Frei Luís de Sousa (1555-1632), menos importante, costuma limitar-se à hagiografia, mas devemos referir também os inacabados Anais do Rei Dom João III, redigidos por incumbência de Filipe IV entre 1630 e 1632, sobretudo pelo seu documentado carácter estritamente histórico.
A configuração da novela como género literário na Inglaterra do século XVIII tem algumas causas pelo menos imprecisas, embora se possam referir alguns condicionalismos muito concretos: em primeiro lugar, existiam nesse país as condições materiais necessárias para a consolidação de uma nova classe média capitalista, da qual se salientará a literatura enquanto produto inserido no prometedor mercado nacional; em segundo lugar, existia um precedente claro para o êxito da nova fórmula narrativa: Robinson Crusoé, uma obra que acertou com o modelo próprio da novela até aos nossos dias; em terceiro lugar – tal como se adivinha justamente na obra de Defoe –, a descoberta do subjectivismo e do sentimentalismo, que se deixava já antever desde a prosa da Restauração inglesa, possibilitou uma nova concepção do Mundo cuja tradução directa seria a novela moderna.
Na verdade, o aparecimento da novela moderna, não somente na Inglaterra, mas em toda a Europa, está determinada pela configuração de um gosto «sensível» cifrado na subjectividade e confrontada esta com a «razão universal». Por isso, assiste-se então ao culminar de um processo ideológico que, começado com o Renascimento europeu, nos alvores da modernidade, se manifesta abertamente neste século XVIII e chega aos nossos dias com alguns traços críticos devidos à crise ideológica de finais do século XIX. O subjectivismo que impregna o novo gosto literário, próprio da classe média e satisfeito com os autores dela saídos, faz com que a novela moderna se diferencie da anterior no seu abandono da «aventura exterior» pela «interior»: a estrutura narrativa não se sustenta já no encadeamento de acontecimentos, mas na exploração dos sentimentos e da consciência dos personagens, seres individuais, e não poucas vezes individualistas, que se confrontam com condições adversas no desenvolvimento ou confirmação da própria personalidade.
O século XIX vai conhecer uma grande diversificação do campo literário como meio de expressão da própria literatura. Até esse momento, a literatura necessitou do tratado teórico para se pensar a si própria. O grande achado do Romantismo neste âmbito foi o da estrita subjectividade do literário e, portanto, a descoberta de múltiplas formas para a expressão de ideias literárias. O interesse pela crítica e pela teoria literária não era novo, pois tinha nascido com a definição plena da consciência burguesa no século XVIII, precisamente em Inglaterra, onde essa classe se tinha servido de um novo género, o jornalismo, para a difusão dos ideais burgueses ilustrados. Seguindo essa tendência, os românticos tratarão os assuntos literários, culturais, sociais e ideológicos em geral, não só com base em determinados modelos formais, como socorrendo-se de outros anteriores – o ensaio –, dando-lhes uma forma moderna – por exemplo, a autobiografia – ou, inclusivamente, fazendo-os surgir da confluência de outros – por exemplo, a crítica impressionista. Produz-se desta forma a especialização de um certo sector da classe culta como «intelectuais», pensadores teóricos e críticos da sociedade e da cultura do seu tempo, com uma consciência de profissionalização e especialização que tem as suas origens no século XVIII. Resultado igualmente desta especialização do saber literário, tanto como da sua associação a uma classe burguesa altamente politizada, é a formação de «grupos» de intelectuais – geralmente associados a sectores conservadores e liberais – que irão proliferar a partir do início do século XIX.
Li anteriormente:
Vol. III – O Renascimento Literário Europeu (1989)
Vol. II – A Idade Média (1989)
Vol. I – As Literaturas Antigas e Clássicas (1989)