Minha Luta
(1925-1928)
O célebre Mein
Kampf, esteve oficialmente fora de circulação por 70 anos.
Quando voltou ao prelo, veio acrescentado de uma enormidade de notas
de rodapé, para «fazer o contraditório»; a edição do Instituto
de História Contemporânea de Munique acrescentou-lhe cerca de 5000
– um cuidado que não é tomado na publicação de outras obras
consideradas extremistas. Entretanto, os críticos relembraram quanto
a obra é enfadonha, mal escrita e pouco clara. Demasiado empenho com
um livro que «não presta», dir-se-ia...
A qualidade da escrita é uma questão
premente; no entanto, é preciso ter em consideração a história
das traduções do livro para inglês, as quais se tornaram na fonte
de outras traduções, devido à inacessibilidade em língua alemã.
A primeira tradução foi feita em 1933, pelo britânico Edgar
Dugdale, motivada pela chegada de Hitler ao poder, mas cobre menos de
metade do texto original. Em 1936, o próprio governo alemão decidiu
patrocinar uma nova tradução, a cargo de James Murphy, outro
britânico, que entrou em desacordo com os contratantes e abandonou a
tarefa em 1938; os alemães terminaram a tradução por sua conta e
publicaram-na no final dessa década. É a designada edição
Satalag, de muito má qualidade. Até 1939 surgiram mais
quatro novas versões. Regressado a Inglaterra, James Murphy reviu
e completou a sua tradução, que foi publicada em 1939; esta versão
foi reeditada várias vezes e é a mais difundida na internet.
Também uma equipa liderada por Alvin
Johnson efectuou uma tradução, publicada pela Reynal &
Hitchcock, hostil ao conteúdo do livro e ao nacional-socialismo.
Outra editora estado-unidense, Stackpole and Sons, produziu uma
versão dirigida por William Soskin e Ludwig Lore, dois judeus, mas
foi retirada, depois de um processo por infracção dos direitos de
autor.
Entretanto a casa Houghton-Mifflin, que
editara a versão de Dugdale, decidiu publicar uma nova tradução,
mais completa, por Ralph Manheim, com introdução do jornalista
Konrad Heiden, dois judeus alemães. É, sem surpresa, uma versão
descaradamente hostil, publicada em 1943, e que se tornou na tradução
«oficial», citada por académicos e jornalistas.
Como muitos alemães da época, Adolf
Hitler escrevia com orações longas, em parágrafos extensos e
complexos. Temos assim duas traduções – a de Murphy e a de
Manheim – que se agarram em demasia a esse estilo, com prejuízo do
leitor. Pior ainda, o esforço de tradução é pobre, e redunda por
vezes em frases difíceis, incoerentes ou incompreensíveis, onde se
perde a fluidez do original alemão. Murphy toma frequentemente
«liberdades de tradução» que resultam em termos e expressões
injustificadas, quando não deixa de fora frases completas. Manheim,
mais literal, não é por isso mais inteligível.
À excepção da de Murphy, todas as outras traduções contêm
comentários hostis, que comprometem a imparcialidade do trabalho dos
tradutores. Daqui se poderá concluir que as traduções foram
propositadamente desfocadas para dificultar a leitura. Resta
mencionar a recente tradução de Thomas Dalton, que se propôs
restaurar o texto original, sem enviesamentos. Apesar de tudo, Minha
Luta não deixa de ser um documento histórico de
grande importância, para entender o primeiro quartel
do século no contexto centro-europeu, e uma oportunidade rara de
testemunhar o pensamento, antes da chegada ao poder, de um dos homens
mais influentes do seu tempo.
O livro surgiu originalmente em duas
partes; a primeira, de 1925, subintitulada «Retrospectiva», é
maioritariamente autobiográfica e versa sobretudo a juventude do
autor: da sua permanência em Viena, elabora uma análise minuciosa
às condições políticas e sociais do império austro-húngaro nos
primeiros anos do século XX; depois, a chegada a Munique, o combate
nas trincheiras na Grande Guerra e, por fim, a análise exaustiva das
causas da derrocada alemã no desfecho do conflito, servem de
pretexto para um extenso enquadramento e análise que lhe permitem
apresentar o pano de fundo para a sua opção política, que acabou
por desaguar – quase por acaso – num partido recém-criado, que
se viria a transformar no NSDAP. Em 1928 foi publicada a segunda
parte, «Movimento Nacional-Socialista», na qual Adolf Hitler
sistematiza o seu pensamento político; os cinco capítulos iniciais,
mais do que um autêntico programa de governo, tratam da doutrina
para uma ordem nova, propondo uma revolução de mentalidades e a
construção de uma nova sociedade. Depois retoma a narrativa
histórica no ponto em que terminara a primeira parte, em 1920, para
descrever a ascensão triunfal do partido na sociedade alemã, a
génese das SA, e outras questões relativas à natureza da
organização e da estratégia partidária, que vai intercalando com
mais análise e doutrina política.
Nas edições posteriores o livro
adquiriu a forma definitiva. As vendas de Mein Kampf,
inicialmente modestas, foram crescendo ao longo dos anos como uma
bola de neve. Do milhão e meio de cópias vendido em 1933, passou a
mais de 10 milhões em 1943, com tradução em 16 línguas. Mesmo
depois da sua proibição, em países ditos «democráticos», o Mein
Kampf continuou a ser editado em Inglaterra e EUA (onde vende
mais de 15 mil exemplares ao ano) e, em edições não autorizadas,
um pouco por todo o mundo (como no Brasil, onde a edição da
Centauro é considerada a melhor em língua portuguesa), acompanhadas
de um cortejo de protestos e de medidas repressivas. Já nos países
árabes e da Ásia, livres dos constrangimentos dos tribunais
bávaros, a obra foi um imenso sucesso, tendo há muito ultrapassado
os 125.000 exemplares na Índia, ou os 100.00 durante os poucos meses
em que esteve à venda, em 2005, na Turquia. Mesmo hoje em dia,
depois de ter caído no domínio público, em 1 de Janeiro de 2016, a
impressão do livro continua a ser impedida pelo quadro legal de
muitas «democracias», a começar pela Alemanha. E percebe-se a
razão...
O que mais que tudo e com
mais insistência me fazia refletir no exame do parlamentarismo era a
falta evidente de qualquer responsabilidade individual dos seus
membros. O Parlamento toma qualquer decisão — mesmo as de
conseqüências mais funestas — e ninguém é por ela responsável,
nem é chamado a prestar contas.
Pode-se, porventura, falar
em responsabilidade, quando, após um colapso sem precedentes, o
governo pede demissão, quando a coalizão se modifica, ou mesmo o
Parlamento se dissolve?
Poderá, por acaso, uma
maioria hesitante de homens ser jamais responsabilizada?
[...]
Negando a autoridade do
indivíduo e substituindo-a pela soma da massa presente em qualquer
tempo, o princípio parlamentar do consentimento da maioria peca
contra o princípio básico da aristocracia da natureza; e, sob esse
ponto de vista, o conceito do princípio parlamentar sobre a nobreza
nada têm a ver com a decadência atual de nossa alta sociedade.
Para um leitor de jornais
judeus é difícil imaginar os males que a instituição do controle
democrático pelo parlamento ocasiona, a não ser que ele tenha
aprendido a pensar e a examinar o assunto com independência. Ela é
a causa principal da incrível dominação de toda a vida política
justamente pelos elementos de menos valor. Quanto mais os verdadeiros
chefes forem afastados das atividades políticas, que consistem
principalmente, não em trabalho criativo e produção, mas no
regatear e comprar os favores da maioria, tanto mais a atuação
política descerá ao nível das mentalidades vulgares e tanto mais
essas se sentirão atraídas para a vida pública.
Quanto mais tacanho for,
hoje em dia, em espírito e saber, um tal mercador de couros, quanto
mais clara a sua intuição lhe fizer ver a sua triste figura, tanto
mais louvará ele um sistema que não lhe exige a força e o gênio
de um gigante, mas contenta-se com a astúcia de um alcaide e chega
mesmo a ver com melhores olhos essa espécie de sapiência que a de
um Péricles. Além disso, um palerma assim não precisa
atormentar-se com a responsabilidade de sua ação. Ele está
fundamentalmente isento dessa preocupação, porque, qualquer que
seja o resultado de suas tolices de estadista, sabe ele muito bem
que, desde muito tempo, o seu fim está escrito: um dia terá de
ceder o lugar a um outro espírito tão grande quanto ele próprio.
Uma das características de tal decadência é o fato de aumentar a
quantidade de "grandes estadistas" à proporção que se
contrai a escala do valor individual. O valor pessoal terá de
tornar-se menor à medida que crescer a sua dependência de maiorias
parlamentares, pois tanto os grandes espíritos recusarão ser
esbirros de ignorantões e tagarelas, como, inversamente, os
representantes da maioria, isto é, da estupidez, nada mais odeiam
que uma cabeça que reflete.
Sempre consola a uma
assembléia de simplórios conselheiros municipais saber que têm à
sua frente um chefe cuja sabedoria corresponde ao nível dos
presentes. Cada um terá o prazer de fazer brilhar, de tempos em
tempos, uma fagulha de seu espírito; e, sobretudo, se Sancho pode
ser chefe, por que não o pode ser Martinho?
Mas, ultimamente, essa
invenção da democracia fez surgir uma qualidade que hoje se
transformou em uma verdadeira vergonha, que é a covardia de grande
parte de nossa chamada "liderança". Que felicidade poder a
gente esconder-se, em todas as verdadeiras decisões de alguma
importância, por trás das chamadas maiorias!
Veja-se a preocupação de
um desses salteadores políticos em obter a rogos o assentimento da
maioria, garantindo-se a si e aos seus cúmplices, para, em qualquer
tempo, poder alienar a responsabilidade. E eis aí uma das principais
razões por que essa espécie de atividade política é desprezível
e odiosa a todo homem de sentimentos decentes e, portanto, também de
coragem, ao passo que atrai todos os caracteres miseráveis —
aqueles que não querem assumir a responsabilidade de suas ações,
mas antes procuram fugir-lhe, não passando de covardes pulhas. Desde
que os dirigentes de uma nação se componham de tais desprezíveis,
muito depressa virão as conseqüências. Ninguém terá mais a
coragem de uma ação decisiva: toda desonra, por mais ignominiosa,
será aceita de preferência à resolução corajosa. Ninguém mais
está disposto a arriscar a sua pessoa e a sua cabeça para executar
uma decisão temerária.
Uma coisa não se pode e
não se deve esquecer: a maioria jamais pode substituir o homem. Ela
é sempre a advogada, não só da estupidez, mas também da covardia,
e assim como cem tolos reunidos não somam um sábio, uma decisão
heróica não é provável que surja de um cento de covardes.
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