Robert A. Heinlein
O Homem que Vendeu a Lua (1951)
Escrito em 1949 e publicado dois anos
depois, The Man Who Sold the Moon, que faz também parte do
ciclo Future History, passa-se nos anos setenta e narra a
história de Delos D. Harriman, um rico e inovador homem de negócios
que investe tudo quanto tem, arrastando consigo alguns sócios
renitentes, no sonho de fazer a primeira viagem à Lua.
Espelho da sua época, este livro
transpira a confiança inabalável dos estado-unidenses na
superioridade da sua cultura, na inevitabilidade de um futuro moldado
à sua vontade, na certeza absoluta de quem sabe que está do lado
certo da História. A vontade ao serviço de uma ideia, neste livro,
fez-me lembrar o Da Terra à Lua, de Jules Verne, que li há
35 anos. Mas, em vez da motivação técnica e científica
novecentista que movia os associados do Gun Club, aqui a ideia é
mesmo fazer dinheiro, muito dinheiro.
De resto é o mesmo afã na resolução
dos problemas técnicos, o mesmo espírito de pioneirismo de alguém
que pretende fazer História. Curiosamente, sendo este um livro de
FC, a narrativa centra-se no antes e no depois: a viagem à Lua
propriamente dita, e o seu regresso, dão-se num par de curtos
parágrafos. O ponto de interesse são todos os imbróglios legais,
direitos, concessões, contratos, fontes de financiamento, impasses,
oportunidades, manipulações e golpadas, descritos num ritmo
vertiginoso e arrebatador.
Kamens apareceu, mas apenas quando lhe pareceu conveniente. Uns minutos mais tarde, Harriman explicava-lhe a sua ideia de reclamar direitos sobre a Lua, antes de lá pôr os pés.
— Para além dessas empresas testa-de-ferro — prosseguiu —, precisamos de uma agência que possa receber contribuições sem ter de admitir ter qualquer interesse financeiro da parte do contribuidor. Uma coisa assim como a National Geographic Society.
Kamens abanou a cabeça.
— Não se pode comprar a National Geographic Society.
— Raios partam, mas quem disse que a íamos comprar? Montamos uma nossa.
— Era isso que eu ia dizer.
— Ainda bem. Da forma como vejo isto, precisamos de pelo menos uma empresa isenta de impostos, não-lucrativa, dirigida pelas pessoas certas; e nós manteremos o controlo dos votos, evidentemente. Provavelmente, precisaremos de mais do que uma; montá-las-emos à medida que formos precisando. E precisaremos de ter pelo menos uma empresa normal, não isenta de impostos... Mas que não mostrará lucros até estarmos prontos para isso. A ideia é deixar que a empresa não-lucrativa tenha todo o prestígio e toda a publicidade... enquanto a outra recebe todos os lucros, se e quando houver. Fazemos girar o património entre empresas, sempre por razões perfeitamente válidas, de forma a que as empresas não-lucrativas paguem as despesas enquanto avançamos. Agora que penso nisso, será melhor termos pelo menos duas empresas normais, para que possamos deixar uma delas ir à falência, se isso for necessário para sacudir a água do capote. Isto é o esboço em geral. Deita mãos à obra e trata de que seja tudo legal, se não te importas.
Kamens respondeu:
— Sabes, Delos... Seria tudo muito mais honesto se simplesmente o fizesses de caçadeira em punho.
— Um advogado a falar-me de honestidade! Deixa lá, Saul... Não vou mesmo ludibriar ninguém, na verdade...
— Hum...
— ...E vou apenas fazer uma viagem à Lua. Será isso que toda a gente irá pagar; e será isso que terão. Agora trata de tudo para que seja tudo legal, vá, sê um bom rapaz.
— Faz-me lembrar qualquer coisa que o advogado do Vanderbilt mais velho disse ao velhote em circunstâncias semelhantes: «Está tão bonito tal como está! Porquê estragar tudo tornando-o legal?». Mas tudo bem, irmão pirata, eu trato de armar a tua ratoeira. Mais alguma coisa?
— Para além dessas empresas testa-de-ferro — prosseguiu —, precisamos de uma agência que possa receber contribuições sem ter de admitir ter qualquer interesse financeiro da parte do contribuidor. Uma coisa assim como a National Geographic Society.
Kamens abanou a cabeça.
— Não se pode comprar a National Geographic Society.
— Raios partam, mas quem disse que a íamos comprar? Montamos uma nossa.
— Era isso que eu ia dizer.
— Ainda bem. Da forma como vejo isto, precisamos de pelo menos uma empresa isenta de impostos, não-lucrativa, dirigida pelas pessoas certas; e nós manteremos o controlo dos votos, evidentemente. Provavelmente, precisaremos de mais do que uma; montá-las-emos à medida que formos precisando. E precisaremos de ter pelo menos uma empresa normal, não isenta de impostos... Mas que não mostrará lucros até estarmos prontos para isso. A ideia é deixar que a empresa não-lucrativa tenha todo o prestígio e toda a publicidade... enquanto a outra recebe todos os lucros, se e quando houver. Fazemos girar o património entre empresas, sempre por razões perfeitamente válidas, de forma a que as empresas não-lucrativas paguem as despesas enquanto avançamos. Agora que penso nisso, será melhor termos pelo menos duas empresas normais, para que possamos deixar uma delas ir à falência, se isso for necessário para sacudir a água do capote. Isto é o esboço em geral. Deita mãos à obra e trata de que seja tudo legal, se não te importas.
Kamens respondeu:
— Sabes, Delos... Seria tudo muito mais honesto se simplesmente o fizesses de caçadeira em punho.
— Um advogado a falar-me de honestidade! Deixa lá, Saul... Não vou mesmo ludibriar ninguém, na verdade...
— Hum...
— ...E vou apenas fazer uma viagem à Lua. Será isso que toda a gente irá pagar; e será isso que terão. Agora trata de tudo para que seja tudo legal, vá, sê um bom rapaz.
— Faz-me lembrar qualquer coisa que o advogado do Vanderbilt mais velho disse ao velhote em circunstâncias semelhantes: «Está tão bonito tal como está! Porquê estragar tudo tornando-o legal?». Mas tudo bem, irmão pirata, eu trato de armar a tua ratoeira. Mais alguma coisa?
Li anteriormente:
Revolta em 2100 (1953)
Os Filhos de Matusalém (1958)
O Dia Depois de Amanhã (1949)
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