Camilo Castelo Branco
Amor de Perdição (1862)
É a obra mais conhecida de Camilo
Castelo Branco, várias vezes adaptada ao cinema, e, talvez, o mais
perfeito exemplo do romantismo na literatura portuguesa. Inspirado
por factos reais sucedidos no seio da sua família e, certamente,
pela própria experiência pessoal - o autor escreveu a novela na
mesma cadeia por onde faz passar um dos protagonistas -, Amor de
Perdição é uma variação sobre o tema de Romeu e Julieta:
o amor contrariado de Simão Botelho e Teresa Albuquerque, rumo a um
desfecho funesto. Julgar que a previsibilidade do enredo retira o
prazer da leitura, seria, no entanto, um erro. A escrita viva de
Camilo Castelo Branco e os frequentes episódios paralelos (a
maledicência das monjas, quando Teresa é enviada para o convento de
Viseu, é hilariante), aligeiram o trágico desenrolar da narrativa.
O académico, porém, com os seus
entusiasmos, era incomparavelmente muito mais prejudicial e perigoso
que o mata-mouros de tragédia. As recordações esporeavam-no a
façanhas novas, e naquele tempo a academia dava azo a elas. A
mocidade estudiosa, em grande parte, simpatizava com as balbuciantes
teorias da liberdade, mais por pressentimento, que por estudo. Os
apóstolos da Revolução Francesa não tinham podido fazer reboar o
trovão dos seus clamores neste canto do mundo; mas os livros dos
enciclopedistas, as fontes onde a geração seguinte bebera a peçonha
que saiu do sangue de noventa e três, não eram de todo ignorados.
As doutrinas da regeneração social pela guilhotina tinham alguns
tímidos sectários em Portugal, e esses de ver é que deviam
pertencer à geração nova. Além de que o rancor à Inglaterra
lavrava nas entranhas das classes manufactureiras, e o desprender-se
do jugo aviltador de estranhos, apertado, desde o princípio do
século anterior, com as sogas de ruinosos e pérfidos tratados,
estava no ânimo de muitos e bons portugueses que se queriam antes
aliançados com a França. Estes eram os pensadores reflexivos; os
sectários da academia, porém, exprimiam mais a paixão da novidade
que as doutrinas do raciocínio.
Li anteriormente:
A Queda dum Anjo (1866)
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