Robert A. Heinlein
Revolta em 2100 (1953)
Revolt in 2100 é composto de
uma novela, If This Goes On... (Se Isto Continuar) e dois
contos, Coventry e Misfit (O Desajustado), os três
originalmente publicados na Astounding Science Fiction entre
1939 e 1940, e pertencentes ao ciclo Future History. Se
Isto Continuar (à qual pertence
o excerto abaixo apresentado), passa-se na época referida em
Os Filhos de Matusalém como «o Interregno dos Profetas»,
uma tirania teocrática e isolacionista estabelecida nos Estados
Unidos; narra, na primeira pessoa, a história de John Lyle, um jovem
soldado pertencente à própria guarda pretoriana do Profeta, que,
por causa de um amor ilegal, se vê arrastado para a clandestinidade
e para a maçonaria, e consequentemente para o combate à ordem que
até então aceitava sem questionar.
Coventry, também várias vezes
referenciado em Os Filhos de Matusalém, é uma extensa
reserva cercada por uma barreira intransponível, onde são largados
à sua sorte os associais e criminosos que optam por recusar um
tratamento de reajuste psicológico. Coventry descreve a
condenação e o desterro de David MacKinnon nesse território, dando
simultaneamente uma visão da organização social aí praticada, da
importância das relações de poder e de amizade, e da luta pela
sobrevivência nessa terra de vida dura.
Em O Desajustado é-nos
apresentada a personagem de Andrew Jackson Libby, que desempenha um
papel importante Os Filhos de Matusalém, bem como noutros
contos de Future History, senhor de uma extraordinária
capacidade de cálculo mental, e aqui descrito como «um desses
talentos selvagens que aparecem uma vez na vida outra na morte». O
Desajustado narra o seu baptismo de espaço, integrado numa
missão que tem como objectivo capturar um asteróide, para, depois
das necessárias escavações e construções, o transformar numa
base a ser colocada entre as órbitas da Terra e Marte.
— Claro que não
pretendemos levar ninguém à vingança, pois esta ainda pertence a
Deus. Nunca mandaria você contra o Inquisidor porque pudesse estar
tentado a alegrar-se pessoalmente com isso. Não usamos a tentação
do pecado como isca. O que fazemos, o que estamos fazendo é engajar
homens numa operação militar calculada, numa guerra já iniciada.
Um homem-chave, às vezes, vale mais do que um regimento; pegamo-lo e
matamo-lo. O bispo de uma diocese pode ser tal homem; já o de um
outro Estado pode ser apenas um incompetente, sustentado pelo
sistema. Matamos o primeiro, deixamos o segundo onde está.
Gradativamente, estamos eliminando seus melhores cérebros. Agora —
inclinou-se em minha direção — quer um emprego para agarrar esses
homens-chave? É um trabalho muito importante.
Pareceu-me que,
nesse negócio, sempre havia alguém querendo me fazer encarar os
fatos, ao invés de me deixar fugir dos mais desagradáveis, como a
maioria das pessoas consegue fazer durante a vida toda. Será que eu
teria estômago para essa atribuição? Será que eu podia recusá-la,
uma vez que Mestre Peter tinha insinuado que pelo menos os assassinos
eram voluntários? Recusá-la e tentar ignorar do fundo do meu
coração o que estava acontecendo e como eu estava desculpando tudo?
Mestre Peter
tinha razão; o homem que compra carne é irmão do açougueiro. O
problema era melindroso, mas não moral... como o homem que é
favorável à pena de morte mas que pessoalmente é «bom» demais
para preparar o nó da corda ou brandir o machado. Como a pessoa que
encara a guerra como inevitável, ou mesmo em certas circunstâncias
como moral, mas evita o serviço militar por não gostar de matar.
Emocionalmente
infantis, eticamente retardados — a mão esquerda tem de saber o
que a direita faz e o coração é responsável por ambas.
Li anteriormente:
Os Filhos de Matusalém (1958)
O Dia Depois de Amanhã (1949)
O Gato que Atravessava as Paredes
(1985)
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