A Terra Oca
(1964)
Não é à
primeira tentativa que se encontra informação sobre Raymond
Bernard; o mais provável é
depararmo-nos com o cineasta
judeu francês. Este Raymond
Bernard – ou Raymond W. Bernard –, Walter Siegmeister de seu
verdadeiro nome, é outro judeu, estado-unidense de origem russa,
escritor esotérico, praticante
de medicina alternativa (estes dois temas predominam na sua extensa
bibliografia),
que
também editou sob o nome Uriel Adriana. Movido
pelos seus interesses pessoais,
terá percorrido uma boa parte dos países da Ibero-América. Quanto
a este livro, The Hollow
Earth, publicado no ano
anterior ao da sua morte, é
baseado num seu outro
livro, Flying Saucers
from the Earth's Interior,
e regressa à teoria da Terra Oca, descartada
pela ciência desde finais do séc. XVIII, que
tem como maior
óbice o modo como se verifica
a propagação das ondas
sísmicas.
O
principal argumento, na
defesa da teoria suportada por este livro, é o testemunho do
contra-almirante
Richard E. Byrd, da marinha
dos EUA, que em 1947 e 1956
teria sobrevoado as regiões polares árcticas e antárcticas, e
penetrado em vários milhares de quilómetros na extensão interior
da Terra, através de aberturas que a ela conduzem, existentes nessas
regiões – um testemunho
que não foi
obtido directamente, mas pela transcrição
e interpretação de algumas
frases a si atribuídas, transcritas dos
jornais da época, por sua
vez citadas
das
rádio-transmissões. Dos membros
das expedições de Byrd,
falecido
em 1957, que poderiam confirmar o testemunho, apenas um é referido
de passagem
pelo seu nome.
Entretanto,
Raymond Bernard acrescenta à
equação o avistamento
de discos voadores,
atribuindo a sua origem à
civilização avançada que,
supostamente, existirá no continente interior, e
denuncia a supressão da informação, atribuída
ao poder governamental, interessado em guardar para si o segredo, com
o fito de afastar possíveis
competidores à conquista deste novo mundo.
Recorre igualmente a
relatos, lendas, outros livros
e
documentos que defendem
a existência dessa terra, muitos
deles ultrapassados tanto pelo estado do conhecimento actual, como
até pelo
de 1964, quando o livro deu
à estampa.
Algumas
das referências contidas em
Le
Roi
du
Monde,
de René Guénon, também
aqui são nomeadas,
como seria de esperar. Contudo,
ao contrário do plano simbólico e espiritual onde se coloca esse
livro, este The
Hollow Earth, move-se
no
plano puramente material da
realidade
física, assente sobre
conclusões apressadas e
desejos tomados como factos
comprovados. E, como a
cereja no topo do bolo, veicula
uma mensagem mais que
subliminar em prol do pacifismo e de um governo mundial. A
Terra Oca deve ser lido
como uma obra de ficção; como tal, é possível
extrair dela algum
interesse.
Uma
das provas principais de que a Terra é oca é que é mais quente
perto dos pólos. Se pode ser mostrado, citando aqueles que mais
longe se aventuraram em direção aos supostos pólos, que é mais
quente, que a vegetação mostra mais a vida, que a caça é mais
abundante do que mais longe para o sul, então temos um direito
razoável de asseverar que o calor vem do interior da Terra, uma vez
que este parece ser o único lugar de onde ele pode vir. Em A
Última Viagem do Capitão Hall, lemos: “Achamos esta
região bem mais quente do que esperávamos, livre de neve e gelo.
Achamos uma região onde a vida é abundante, com focas, gansos,
patos, bois almiscarados, coelhos, lobos, raposas, ursos, perdizes,
roedores etc.” (Ele está falando do norte distante.)
Nansen
chama atenção especial para o calor, e diz: “Devemos quase
imaginar-nos em casa.” Este é um dos pontos mais ao norte já
alcançado por alguém, e, todavia, o clima é ameno e agradável.
Será
observado que estes ventos extremamente fortes do interior da Terra
não somente elevam consideravelmente a temperatura na vizinhança do
oceano Ártico, mas influenciam até à distância de seiscentos e
cinqüenta quilômetros. Nada poderia elevar a temperatura de tal
maneira exceto uma tempestade vinda do interior da Terra.
Greely
diz: “Certamente esta presença de pássaros, flores e feras é
uma saudação por parte da natureza ao nosso novo lar”. Será
que isto soa como se ele tivesse esperado achar tais coisas lá, ou
que a sua presença era uma ocorrência de todos os dias? Não. Foi
escrito num tom de surpresa. De que lugar vieram estes pássaros e
caças. Ao sul, por quilômetros, “a terra estava coberta de
neve perpétua
– em muitos lugares com milhares de metros de profundidade. Eles
foram achados naquela localização no verão;
e como era mais quente para o norte não é provável que fossem para
um clima mais frio no inverno. Eles parecem passar para o interior da
Terra. Certas aves da Austrália deixam aquele continente em setembro
e ninguém foi jamais capaz de descobrir para onde vão. Minha teoria
é de que passam para o interior da Terra, pelo Pólo Sul.”
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