Do Liberalismo
à Apostasia – A Tragédia Conciliar (1987)
Como já escrevi
sobre outro livro, no início deste ano, adaptando agora o tema e os
autores, «Não tenho por hábito ler livros sobre religião escritos
por membros do clero, mas...», e este mas prende-se com a
personalidade do arcebispo Marcel Lefebvre (1905-1991), pois basta
ler a sua biografia para se perceber a dimensão da sua integridade,
de homem que não pactuou com aqueles que considerava os destruidores
do catolicismo. Recordo-me, já vão mais de 30 anos, de ler o seu
nome em curtas notícias sobre a sua «rebeldia» em continuar a
celebrar a missa em latim – o que me parecia então uma bizantinice
– porém o tema não era aprofundado e nunca me apercebi do que
estava realmente em questão. Entretanto, recentemente, li um excerto
deste mesmo livro, o qual me trouxe até aqui.
Com um título
original ainda mais longo do que o desta edição publicada no Brasil
(Ils l'ont découronné : du libéralisme à l'apostasie, la
tragédie conciliaire), este livro tem por base uma série de
conferências feitas no seminário de Écône, cidade suíça onde
Lefebvre foi bispo, onde fundou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X,
e onde está sepultado.
Marcel Lefebvre
entende que a Verdade é imutável por definição; a Verdade não
pode ser uma coisa hoje e outra coisa diferente amanhã; para a fé,
a evolução é a morte. Depois de fazer um historial do liberalismo,
fruto do racionalismo e do subjectivismo, e da crítica que
historicamente os papas lhe moveram, recorrendo à citação de
inúmeros textos papais entre o séc. XIX e a primeira metade do séc.
XX acerca do lugar da Igreja no Estado e dos perigos da modernidade,
considera que o Concílio Vaticano II, minado por maçons e liberais,
entra em contradição directa com a tradição e a doutrina da Santa
Sé. As conclusões do Concílio levaram à ruína do direito público
da Igreja, no que designa como Reinado social de Nosso Senhor Jesus
Cristo, tendo como consequência directa a supressão do princípio
do estado confessional católico, a sua laicização, a pedido do
próprio Vaticano, o que considera uma verdadeira traição. Na
verdade, sob o pretexto de «acompanhar os tempos», este Concílio
não foi, aparentemente, a jogada mais brilhante (como a posição
oficial da Igreja tenta ainda fazer crer), tendo em conta o
esvaziamento dos templos e a descristianização galopante que não
logrou estancar.
Crítico frontal
e incómodo da Igreja pós-conciliar, Marcel Lefebvre acabou por ser
excomungado por João Paulo II em 1988; foi também condenado a uma
multa por um tribunal francês, em 1990, por delito de opinião, após
se ter manifestado publicamente contra o perigo da imigração
islâmica. Resta reconhecer a falta que fazem homens do sua craveira
à Igreja e ao mundo actual.
—
«Maçons, o que quereis?» O que solicitais de nós? Tal é a
pergunta que o Cardeal Bea fez aos B'nai B'rith antes do começo do
Concílio: a entrevista foi relatada por todos os jornais de Nova
Iorque, onde ela se realizou. Os maçons responderam que queriam a
«liberdade religiosa!», o que quer dizer todas as religiões em
plano de igualdade. A Igreja, de agora em diante, não há de ser
chamada a única e verdadeira religião, o único caminho de
salvação, a única admitida pelo Estado. Terminemos com estes
privilégios inadmissíveis e declarai então a liberdade religiosa.
Eles o conseguiram: foi a «Dignitatis Humanae».
—
«Protestantes, o que quereis?» O que solicitais para que vos
possamos satisfazer e rezar juntos? A resposta foi: Trocai vosso
culto, retirai aquilo que não podemos admitir! Muito bem, lhes foi
dito, inclusive os chamaremos quando formos elaborar a reforma
litúrgica. Vós formulareis vossos desejos e a eles nós ajustaremos
nosso culto! Assim aconteceu: foi a constituição sobre a liturgia
«Sacrosanctum Concilium», primeiro documento promulgado pelo
Vaticano II, que dá os princípios e o programa detalhado da
adaptação litúrgica, feita de acordo com o protestantismo, depois
o «Novus Ordo Missae» promulgado por Paulo VI em 1969.
—
«Comunistas, o que solicitais, para que possamos ter a felicidade de
receber alguns representantes da Igreja Ortodoxa Russa no Concílio?
Alguns emissários do K.G.B.!» A condição exigida pelo patriarca
de Moscou, foi a seguinte: «Não condeneis o Comunismo no Concílio,
não faleis neste tema!». (Eu acrescentaria: sobretudo nada de
consagrar a Rússia ao Coração Imaculado de Maria!) e também
«manifestai a abertura do diálogo conosco». E o acordo se fez, a
traição foi consumada: «Estamos de acordo, não condenaremos o
comunismo!» Isto mesmo foi executado ao pé da letra: eu mesmo
levei, juntamente com Mons. De Proença Sigaud, uma petição com 450
assinaturas de Padres conciliares ao Secretário do Concílio Mons.
Felici, solicitando que o Concílio pronunciasse uma condenação da
mais espantosa técnica de escravidão da história humana, o
comunismo. Depois, como nada acontecia, perguntei onde estava nosso
pedido. Procuraram e finalmente me responderam com uma desenvoltura
que me deixou estupefato: «Seu pedido se extraviou numa gaveta...».
E não se condenou o comunismo; ou melhor, o Concílio cuja intenção
era discernir «os sinais dos tempos», foi condenado por Moscou a
guardar silêncio sobre o mais evidente e monstruoso dos sinais dos
tempos atuais!
Está
claro que houve no Concílio Vaticano II um entendimento com os
inimigos da Igreja, para terminar com as hostilidades para com eles.
É um entendimento com o diabo!
Ningún comentario:
Publicar un comentario