Arthur C. Clarke / vários autores
A Sonda do Tempo (1966)
Uma antologia de contos de vários
autores de FC, organizada por um dos nomes sonantes do género, não
é um acontecimento raro; já tive oportunidade de ler obras neste
formato, editadas ou organizadas por Isaac Asimov ou Bruce Sterling.
A Sonda do Tempo (Time Probe no título original)
compõe-se de 11 contos que incluem o Take A Deep Breath (ou
Respire Fundo), do próprio Arthur C. Clarke, que eu já
conhecia da sua colectânea O Outro Lado do Céu. Os outros
autores incluídos são Isaac Asimov, Robert A. Heinlein, Julian
Huxley (irmão de Aldous Huxley), Cyril M. Kornbluth, Philip Latham,
Murray Leinster, James H. Schmitz, Robert Silverberg, Theodore L.
Thomas e Jack Vance. Os contos datam entre 1927 e 1962, e Arthur C.
Clarke fez a sua selecção de modo que cada um deles ilustrasse um
aspecto particular da ciência ou tecnologia – matemática,
arqueologia, medicina, biologia, etc.
É difícil – para não dizer injusto
– destacar qualquer dos contos; mas, para o excerto abaixo citado
escolhi o primeiro, de Robert A. Heilein, intitulado ... E Ele
Construiu Uma Casa Torta, que tem por tema uma casa
tetradimensional, por aplicação da geometria não euclidiana,
concebida por um arquitecto chamado Quintus Teal que, após uma
conversa com um amigo, bem regada de conhaque, o convence a
financiá-la. Depois de considerarem as dificuldades burocráticas,
decidem-se por um desdobramento tridimensional dessa forma geométrica
(da mesma forma que a cruz latina é um desdobramento bidimensional
de um cubo). Uma vez construído o edifício, e na consequência de
um pequeno incidente, o arquitecto, o amigo e a mulher deste, na
visita inaugural, vêem-se aprisionados numa casa de geometria
inesperada onde, por exemplo, se se caminhar sempre no mesmo sentido
volta-se ao ponto de partida, ou ao espreitar por uma janela nunca se
vê o que seria de esperar (e, a partir daqui. as coisas só tendem a
piorar...)
Do ponto de vista dos
Baileys ele simplesmente desapareceu.
Mas não do seu. Levou
alguns segundos para recuperar o fôlego. Então, cautelosamente,
soltou-se da roseira com a qual ficara quase que irrevocavelmente
entrelaçado, tomando mentalmente nota de nunca mais encomendar
ajardinamento que incluísse plantas com espinhos, e olhou em volta.
Estava do lado de fora da
casa. O volume compacto da sala do andar térreo elevava-se ao seu
lado. Aparentemente, caíra do telhado.
Dobrou a esquina da casa
correndo, abriu a porta da frente, com violência, e subiu correndo
as escadas. — Homer! — chamou. — Sra. Bailey! Encontrei uma
saída!
Bailey pareceu mais
aborrecido do que contente em vê-lo. — O que foi que aconteceu com
você?
— Caí para fora. Estive
do lado de fora da casa. Vocês podem fazer isso com a mesma
facilidade — apenas atravessem essas portas-janelas. Cuidado com a
roseira, talvez tenhamos que construir outra escada.
— Como foi que voltou a
entrar?
— Pela porta da frente.
— Então sairemos da
mesma maneira. Venha, querida. — Bailey enfiou, resolutamente, o
chapéu na cabeça e desceu as escadas com passo firme, a esposa
agarrada ao seu braço.
Teal encontrou-os na
saleta. — Eu podia ter-lhes dito que isso não funcionaria —
observou. — Agora, eis o que devemos fazer: do modo como vejo as
coisas, numa figura quadridimensional, um homem tridimensional tem
duas escolhas cada vez que cruza uma linha de junção, como uma
parede ou um limiar. Comumente, ele fará uma volta de noventa graus
na quarta dimensão, só que não sentirá isso nas suas três
dimensões. Olhem. — Teal atravessou a mesma janela pela qual caíra
há poucos momentos. Atravessou-a e chegou à sala de jantar, bem
onde estava, ainda falando.
— Observei onde ia e
cheguei onde tencionava. — Voltou para a saleta. — Da outra vez
não prestei atenção, desloquei-me através do espaço normal e caí
para fora da casa. Deve ser um caso de orientação subconsciente.
— Detestaria ter de
depender de orientação subconsciente quando saio de manhã para
apanhar o jornal.
— Você não terá de
fazê-lo; tornar-se-á automático. Bem, para sair da casa, desta vez
— Sra. Bailey, se a senhora ficar de pé aqui, com as costas para a
janela e pular para trás, tenho absoluta certeza de que a senhora
aterrissará no jardim.
O rosto da Sra. Bailey
expressava sua opinião sobre Teal e suas idéias. — Homer Bailey —
disse ela com voz esganiçada, —, você vai ficar parado aí e
deixar que ele sugira uma coisa des...
— Mas, Sra. Bailey —
tentou explicar Teal —, podemos amarrar uma corda na senhora e
baixá-la fácil.
— Esqueça, Teal —
interrompeu Bailey, bruscamente. — Vamos ter de encontrar coisa
melhor do que essa. Nem a Sra. Bailey nem eu estamos em condições
de pular.
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