António Telmo
História Secreta de Portugal (1977)
A História Secreta de Portugal
é interpretação esotérica e simbólica da nossa História, que
aponta para um conhecimento iniciático que ficou plasmado, por
exemplo, na arquitectura monumental dos Jerónimos ou nos próprios
Lusíadas. Assumidamente ao arrepio de todas as convenções
académicas e científicas – o que poderá parecer tanto mais
inesperado quanto se sabe que António Telmo fez carreira
profissional como professor – este livro propõe um ponto de vista
heterodoxo, através de um filtro tradicional, onde o historiador
veste a pele do filósofo, procurando um sentido último e
transcendente para Portugal.
O ódio à natureza ou, num grau menor,
a indiferença pela natureza têm como contraponto a criação de
condições que permitam anular os sentimentos que resultam da ideia
de Deus presente na Natureza (Shekînah). Seja o
medo e o espanto. O espanto que Platão e Aristóteles punham como
origem da filosofia e o temor dos Deuses que o segundo considerava o
princípio da tragédia, foram expurgados da alma do homem,
exconjurados pela filosofia moderna, a qual, ao interpretá-los como
produções da subjectividade enganada, cortou o contacto com os
«mistérios» do destino e da ideia. A filosofia moderna da
história, assente sobre o elogio do homem civilizado (como se os
contemporâneos de Aristóteles fossem selvagens!), atribuiu aqueles
sentimentos a um estado de alma rudimentar e primitivo. Órgãos do
nosso conhecimento subtil, foram amputados. Equivale isto a defender
a cegueira física e o ensurdecimento do homem numa filosofia que
considerasse os dados da vista e do ouvido perturbadores de um
conhecimento real do mundo. Como só a razão constrói um sistema de
certezas, tudo quanto apreendemos e aprendemos pelos sentidos ou
pelos sentimentos, por mais evidente que se afigure, deve ser banido
do domínio da ciência e só admitido como um dado suspeito que deve
passar pela «crítica da razão pura».
Pensava, pelo contrário, Aristóteles
que a razão não deve proceder sem a experiência da alma. A
tragédia, segundo ele, terá por fim suscitar o terror e a piedade,
levando à catárse desses sentimentos. A actividade do intelecto era
uma espécie de visão dos inteligíveis, análoga à visão dos
sensíveis. Assim, o homem conhece com todo o seu ser. Não há
pensamento sem imagens, senão em Deus.
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