25 de maio de 2019

História Secreta de Portugal

António Telmo
História Secreta de Portugal (1977)

A História Secreta de Portugal é interpretação esotérica e simbólica da nossa História, que aponta para um conhecimento iniciático que ficou plasmado, por exemplo, na arquitectura monumental dos Jerónimos ou nos próprios Lusíadas. Assumidamente ao arrepio de todas as convenções académicas e científicas – o que poderá parecer tanto mais inesperado quanto se sabe que António Telmo fez carreira profissional como professor – este livro propõe um ponto de vista heterodoxo, através de um filtro tradicional, onde o historiador veste a pele do filósofo, procurando um sentido último e transcendente para Portugal.

O ódio à natureza ou, num grau menor, a indiferença pela natureza têm como contraponto a criação de condições que permitam anular os sentimentos que resultam da ideia de Deus presente na Natureza (Shekînah). Seja o medo e o espanto. O espanto que Platão e Aristóteles punham como origem da filosofia e o temor dos Deuses que o segundo considerava o princípio da tragédia, foram expurgados da alma do homem, exconjurados pela filosofia moderna, a qual, ao interpretá-los como produções da subjectividade enganada, cortou o contacto com os «mistérios» do destino e da ideia. A filosofia moderna da história, assente sobre o elogio do homem civilizado (como se os contemporâneos de Aristóteles fossem selvagens!), atribuiu aqueles sentimentos a um estado de alma rudimentar e primitivo. Órgãos do nosso conhecimento subtil, foram amputados. Equivale isto a defender a cegueira física e o ensurdecimento do homem numa filosofia que considerasse os dados da vista e do ouvido perturbadores de um conhecimento real do mundo. Como só a razão constrói um sistema de certezas, tudo quanto apreendemos e aprendemos pelos sentidos ou pelos sentimentos, por mais evidente que se afigure, deve ser banido do domínio da ciência e só admitido como um dado suspeito que deve passar pela «crítica da razão pura».
Pensava, pelo contrário, Aristóteles que a razão não deve proceder sem a experiência da alma. A tragédia, segundo ele, terá por fim suscitar o terror e a piedade, levando à catárse desses sentimentos. A actividade do intelecto era uma espécie de visão dos inteligíveis, análoga à visão dos sensíveis. Assim, o homem conhece com todo o seu ser. Não há pensamento sem imagens, senão em Deus.

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