Amosando publicacións coa etiqueta Arthur C. Clarke. Amosar todas as publicacións
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11 de agosto de 2018

Rama Revealed

Arthur C. Clarke & Gentry Lee
Rama Revealed (1993)

Em Rama Revealed assiste-se à fuga de Nicole, que assim evita a execução, e à sua reunião com Richard, em New York, no preciso habitáculo que usaram em grande parte de Rama II. O passo seguinte é a reunião dos seus familiares e um par de amigos, que também escapam de New Eden e se dirigem igualmente para ali. Após uma incursão militar, oriunda de New Eden, e uma vez que aquele lugar se torna perigoso, o grupo utiliza os subterrâneos para chegar ao lado sul de Rama – territórios dominados pelas temíveis octospiders, que neste livro se revelam afinal criaturas benévolas.
Nicole e Richard viajam pelo hemicilindro sul de Rama até à Cidade Esmeralda das octospiders, pretexto para uma descrição desta parte de Rama, até aqui sempre inacessível e envolta em mistério, e regressam à sua base na margem sul do Mar Cilíndrico. Perante a renovada ameaça de New Eden, todos (menos um) aceitam a oferta das octospiders e mudam-se para a Cidade Esmeralda, o que serve de pretexto para uma pormenorizada descrição do «optimizado» admirável mundo novo que essa raça implementou.
Mas o governo mafioso de New Eden traz uma guerra de extermínio ao lado sul de Rama e as pacíficas octospiders, a contragosto, são obrigadas a ripostar. No meio da destruição, as inteligências por trás de Rama decidem intervir e abortar toda a operação. Os sobreviventes são colocados em animação suspensa e quando Nicole é acordada, 16 anos depois, é uma octogenária de saúde precária, e encontra-se à vista de um Nodo, próximo de Tau Ceti, enquanto Rama é preparado para nova viagem. A permanência no Nodo leva ao amarrar das poucas pontas soltas que sobravam na narrativa (esta é uma preocupação notória de Rama Revealed, ou A Revelação de Rama) e ao desfecho da obra, com recurso à metafísica e a uma interessante lição de cosmogonia.
Relativamente a esta trilogia-sequela de Rendezvous with Rama, é habitual afirmar-se que cada livro é pior que o anterior; no entanto, essa avaliação será, talvez, um pouco injusta. Rama Revealed, sobretudo pela sua 5.ª parte, é, na minha opinião, o melhor dos três. Há na verdade uma diferença abissal entre Rendezvous with Rama e Rama II: torna-se óbvio que o nome de Arthur C. Clarke só está na capa (e em primeiro lugar) para ajudar a vender os livros; faz-nos pensar qual teria sido o verdadeiro peso de Clarke na contribuição para esta série, pois cada vez mais frequentemente, no decurso da leitura, somos levados a pensar “Arthur C. Clarke nunca teria escrito isto!”. O que se pode apontar à escrita de Gentry Lee já estava presente em Rama II (O Enigma de Rama) e não se alterou nos livros seguintes: há sobretudo uma grande tendência para a dispersão, com ramificações e retrospectivas que nada acrescentam ao essencial da narrativa, mas tornam-na desnecessariamente pesada (este livro é o que menos sofre desses meandros); os três volumes desta sequela não andam muito longe da dimensão de um Guerra e Paz, mas a comparação fica-se por aqui. Todavia sobra pelo menos um ponto positivo: Gentry Lee esforçou-se por fazer uma obra variada a partir de uma premissa um tanto espartana e, ocasionalmente, deparam-se trechos ao nível da obra inicial.
Gentry Lee tem em nome próprio, até este momento, outros dois livros pertencentes ao universo de Rama – Bright Messengers e Double Full Moon Night – mas, pela minha parte, fico por aqui.

"Let me make certain that I have understood this last half hour of discussion," Nicole said into the microphone of her helmet as the shuttle neared the halfway point between the starfish and the Node. "My heart will not last more than ten days at most, despite all your medical magic; my kidneys are currently undergoing terminal failure; and my liver is showing signs of severe degradation. Is that a fair summary?"
"It is indeed," said The Eagle.
Nicole forced a smile. "Is there any good news?"
"Your mind is still functioning admirably, and the bruise on your hip will eventually heal, provided the other ailments don't kill you first."
"And what you are suggesting," Nicole said, "is that I should check into your equivalent of a hospital today over at the Node and have my heart, kidneys, and liver all replaced by advanced machines that can perform the same functions?"
"There may be some other organs that need to be replaced as well," The Eagle said, "as long as we are performing a major operation. Your pancreas has been malfunctioning intermittently, and your entire sexual system is out of spec. A complete hysterectomy should be considered."
Nicole was shaking her head. "At what point does all of this become senseless? No matter what you do now, it's only a matter of time until some other organ fails. What would be next? My lungs? Or maybe my eyes? Would you even give me a brain transplant if I could no longer think?"
"We could," The Eagle replied.
Nicole was quiet for almost a minute. "It may not make much sense to you," she said, "because it certainly isn't what I would call logical... but I am not very comfortable with the idea of becoming a hybrid being."
"What do you mean?" The Eagle asked.
"At what point do I stop being Nicole des Jardins Wakefield?" she said. "If my heart, brain, eyes, and ears are replaced by machines, am I still Nicole? Or am I someone, or something, else?"
"The question has no relevance," The Eagle said. "You're a doctor, Nicole. Consider the case of a schizophrenic who must take drugs regularly to alter the functions of the brain. Is that person still who he or she was? It's the same philosophical question, just a different degree of change."
"I can see your point," Nicole said after another brief silence. "But it doesn't change my feelings. I'm sorry. If I have a choice, and you have led me to believe that I do, then I will decline. At least for today anyway."
The Eagle stared at Nicole for several seconds. Then he entered a different set of parameters into the control system of the shuttle. The vehicle changed its heading.
"So are we going back to the starfish?" Nicole asked.
"Not immediately," The Eagle said. "I want to show you something else first." The alien reached into the pouch around his waist and pulled out a small tube containing a blue liquid and an unknown device. "Please give me your arm. I don't want you to die before this afternoon is over."

Li anteriormente:
The Garden of Rama (1991)
Rama II (1989)

12 de xullo de 2018

The Garden of Rama

Arthur C. Clarke & Gentry Lee
The Garden of Rama (1991)

O Jardim de Rama começa no ponto em que terminou o livro precedente, O Enigma de Rama. O gigantesco cilindro estelar, depois de evitar a colisão com a Terra, prossegue a sua rota rumo ao espaço exterior, levando a bordo os três cosmonautas que, por diferentes razões, não conseguiram abandonar a nave: Nicole, Richard e Michael.
A primeira parte é escrita como o diário de Nicole, e começa com o nascimento da sua filha Simone – de um ponto de vista feminino, portanto, no que pretende ser normalmente uma mostra de versatilidade literária da parte de autores do sexo oposto. Este diário abarca um período de quase 14 anos, onde se descreve a viagem de Rama, inicialmente cheia de surpresas, com as descrições da aceleração do artefacto até atingir metade da velocidade da luz. Depois, também a história entra em velocidade de cruzeiro, dedicando-se aos meandros da vida familiar (nascem mais quatro crianças), em que o conhecimento sobre os desígnios de Rama e sobre as formas de vida que constituem os aparentes companheiros de viagem quase não avança. Por fim, atracam numa imensa base orbital, cerca de Sírio, onde outras naves se encontram ancoradas.
Nesse local, designado por Nodo, decorrem os 16 meses da segunda parte. Os viajantes são comodamente instalados e submetidos a variados testes; por fim são informados, em linhas gerais, do projecto de observação gizado pelas inteligências responsáveis por Rama, que passa por uma separação familiar e o regresso dos restantes ao Sistema Solar, novamente a bordo do remodelado Rama, mas em animação suspensa.
A viagem até ao encontro de Marte demora assim 19 anos de uma penada (sem contar com a dilatação temporal causada pela relatividade), dando início à terceira parte. O governo terrestre, cedendo a uma mensagem transmitida de Rama – por intermédio de Nicole – onde se pretende uma amostra de duas mil pessoas para estudo, selecciona e envia essa gente ao encontro da nave, sob o pretexto de reiniciar a colonização de Marte, informando-a depois da alteração de planos. Os colonos são levados para Rama e instalados no espaço que lhes fora reservado, e nisto decorre a terceira parte, dando o pretexto para a introdução de inúmeros personagens secundários na narrativa.
A quarta parte inicia-se na festa do terceiro aniversário da chegada dos colonos a Rama, e ficamos a saber que a nave se dirige agora a Tau Ceti. Esta fase do livro descreve a dinâmica social da colónia – um espaço fechado de 160 km2 no interior do cilindro, denominado Novo Eden, que recria um habitat terrestre – e observa-se que numa comunidade heterogénea basta muito pouco para a organização se fragilizar e gerar o desastre. No final deste trecho há um golpe sangrento para decapitar o governo da colónia e os seus mais notórios apoiantes, e, como consequência, a fuga de Richard Wakefield.
Uma grande porção da quinta parte descreve a permanência de Richard numa segunda colónia de Rama, habitada por uma forma de vida já encontrada em Rama II, os avians. O seu habitat fora já violado e acabará por ser invadido pelos humanos numa guerra de extermínio, levada a cabo pelo governo mafioso que tomou o poder em Novo Eden. Richard tornar-se-á a única esperança para evitar a destruição destes seres, e empreende uma segunda fuga, para New York. Enquanto isso, Nicole, acusada de sedição, enfrenta um julgamento fantoche que a condena à morte.

"How many spacefaring species are there in our galaxy?" Richard asked a little later.
"That's one of the objectives of our project—to answer that question exactly. Remember, there are more than a hundred billion stars in the Milky Way. Slightly more than a quarter of them have planetary systems surrounding them. If only one out of every million stars with planets was home to a spacefaring species, then there would still be twenty-five thousand spacefarers in our galaxy alone."
The Eagle turned around and looked at Richard and Nicole. "The estimated number of spacefarers in the galaxy, as well as the spacefarer density in any specified zone, is Level III information. But I can tell you one thing. There are Life Dense Zones in the galaxy where the average number of spacefarers is greater than one per thousand stars."
Richard whistled. "This is staggering stuff," he said to Nicole excitedly. "It means that the local evolutionary miracle that produced us is a common paradigm in the universe. We are unique, to be sure, for nowhere else would the process that produced us have been duplicated exactly. But the characteristic that is truly special about our species—namely our ability to model our world and understand both it and where we fit into its overall scheme—that capability must belong to thousands of creatures! For without that ability they could not have become spacefarers."
Nicole was overwhelmed. She recalled a similar moment, years before when she was with Richard in the photograph room of the octospider lair in Rama, when she had struggled to grasp the immensity of the universe in terms of total information content. Again now she realized that the entire set of knowledge in the human domain, everything that any member of the human species had ever learned or experienced, was no more than a single grain of sand on the great beach representing everything that had ever been known by all the sentient creatures of the universe.

Li anteriormente:
Rama II (1989)

17 de xuño de 2018

Rama II



Arthur C. Clarke & Gentry Lee
Rama II (1989)

No prólogo deste livro, escrito quando os quatro volumes da série Rama já estavam publicados, Arthur C. Clarke tece algumas considerações curiosas. Afirma, por exemplo, que as linhas finais de Rendezvous with Rama foram acrescentadas à última da hora, na revisão final, e nunca tivera a intenção de escrever uma sequela. Descreve também as circunstâncias em que Gentry Lee lhe foi apresentado e a renitência inicial em escrever ficção em parceria. Gentry Lee, do JPL da NASA, era então o engenheiro-chefe da missão Galileo que seria lançada à exploração das luas de Júpiter; antes disso tinha sido um dos responsáveis pelas sondas Viking, que fotografaram Marte, e, juntamente com Carl Sagan, fundou a empresa que produziu a série Cosmos. Arthur C. Clarke refere ainda a sua surpresa quando constatou que Gentry Lee possuía maior conhecimento das literaturas inglesa e francesa que ele próprio, e o esforço que fez no sentido de evitar impor o seu estilo à escrita de Lee. O resultado da colaboração foi Cradle e, apesar de considerar a experiência positiva, não havia planos para continuá-la. Entretanto surgiu a ideia de escrever uma trilogia de Rama, e Gentry Lee, com o contributo do seu conhecimento científico, parecia ser a pessoa certa para a tarefa. De facto, cabe a Lee a maior parte da escrita narrativa, tendo Clarke feito algumas sugestões e o trabalho de edição; por este motivo, não surpreende que o estilo seja muito diferente de Rendezvous with Rama, sobretudo no tratamento das personagens.
De Rama II pode dizer-se, sem rodeios, que tem o dobro do tamanho e metade do interesse do livro que lhe deu origem. A história desenrola-se 70 anos depois dos acontecimentos descritos em Rendezvous with Rama, quando uma nova nave, idêntica à primeira, se aproxima do Sistema Solar. A história tarda demasiado a arrancar e é preciso chegar ao capítulo 15 para, finalmente, ver a tripulação no espaço e a chegada a Rama II; contudo, os meandros narrativos e as ramificações inúteis não terminam aqui, e são uma constante ao longo do livro.
Dos doze membros da tripulação internacional do projecto Newton, a narrativa centra-se na personagem de Nicole des Jardins, uma cientista afro-francesa que tem a seu cargo a monitorização médica e o suporte de vida da expedição. Outras personagens em destaque: a italiana Francesca Sabatini, uma mulher ambiciosa e sem escrúpulos, jornalista, que acompanha a missão; o engenheiro inglês Richard Wakefield, construtor de micro-robots nos tempos livres; e, ainda o general norte-americano Michael Ryan O'Toole, cuja fé católica o coloca perante profundos dilemas quando lhe é exigida obediência militar.
A exploração de Rama será certamente o tema de maior interesse, para quem chegou aqui depois de Rendezvous with Rama. E Rama II, geograficamente igual ao primeiro, tem diferenças cruciais e particularidades que adensam o mistério. Uma boa parte do livro – a mais interessante – decorre quando des Jardins e Wakefield ficam isolados em New York, a cidade-ilha no meio do Oceano Cilíndrico, com a descrição do que aí encontram. Desde cedo a missão é confrontada com uma mudança de rumo da nave, que se coloca em rota de colisão com a Terra, com todas as implicações que isso envolve.
Para além da exploração de Rama, o leitor é arrastado para uma trama vagamente policial, com várias personagens preocupadas com os mediáticos contratos milionários que as esperam no regresso, sob pressão dos directos noticiosos que acompanham constantemente a expedição, à mistura com feitiçaria africana, Shakespeare, e História Medieval, numa caldeirada que parece ter sido concebida a pensar numa futura adaptação televisiva ou cinematográfica.

Richard saw that Nicole was staring at him. "I have an idea," he said excitedly. "It may be completely far-fetched... Do you remember Dr. Bardolini and his progressive matrices? With the dolphins?... What if the Ramans also left a pattern here in New York of subtle differences that change from plaza to plaza and section to section?... Look, it's no crazier than your visions."
Already Richard was on his knees on the ground, working with his maps of New York, "Can I use your computer too?" he said to Nicole a few minutes later. "That will speed up the process."
For hours Richard Wakefield sat beside the two computers, mumbling to himself and trying to solve the puzzle of New York. He explained to Nicole, when he took a break for dinner at her insistence, that the location of the third underground hole could only be determined if he thoroughly understood the geometric relationships between the polyhedrons, the three plazas, and all the skyscrapers immediately opposite the principal faces of the polyhedrons in each of the nine sectors. Two hours before dark Richard dashed off hurriedly to an adjacent section to obtain extra data that had not yet been recorded on their computer maps.
Even after dark he did not rest. Nicole slept the first part of the fifteen-hour night. When she awoke after five hours, Richard was still working feverishly on his project. He didn't even hear Nicole clear her throat. She arose quietly and put her hands on his shoulders. "You must get some sleep, Richard," she said quietly.
"I'm almost there," he said. She saw the bags under his eyes when he turned around. "No more than another hour."
Nicole returned to her mat. When Richard awakened her later, he was full of enthusiasm. "Wouldn't you know it?" he said with a grin. "There are three possible solutions, each of which is consistent with all the patterns." He paced for almost a minute. "Could we go look now?" he then said pleadingly. "I don't think I can sleep until I find out."
None of Richard's three solutions for the location of the third lair was close to the plaza. The nearest one was over a kilometer away, at the edge of New York opposite the Northern Hemicylinder. He and Nicole found nothing there. They then marched another fifteen minutes in the dark to the second possible location, a spot very near the southeast corner of the city. Richard and Nicole walked down the indicated street and found the covering in the exact spot that Richard had predicted. "Hallelujah," he shouted, spreading out his sleeping mat beside the cover. "Hooray for mathematics."
Hooray for Omeh, Nicole thought. She was no longer sleepy but she wasn't anxious to explore any new territory in the dark. What comes first, she asked herself after they had returned to camp and she was lying awake on her mat, intuition or mathematics? Do we use models to help us find the truth? Or do we know the truth first, and then develop the mathematics to explain it?

12 de maio de 2018

Rendezvous with Rama



Arthur C. Clarke
Rendezvous with Rama (1973)

Li a tradução portuguesa deste livro em 1984, depois de ter sido editado na Colecção Argonauta com o título Rendez-vous com Rama. Mais tarde tive notícia da continuação da série e, como tinha gostado particularmente deste livro, fiquei com alguma curiosidade pelo seu desenvolvimento, à mistura com algum cepticismo – em primeiro lugar porque considerava a obra naturalmente fechada (apesar dos três parágrafos finais, que ganham hoje outro sentido); depois porque os livros seguintes eram escritos em parceria com Gentry Lee, um nome que não conhecia de lado nenhum. Tendo surgido a oportunidade de ler os volumes seguintes de Rama, decidi revisitar o volume inicial, desta vez no original inglês. Distinguido com os prémios Hugo e Nebula, Rendezvous with Rama conta-se certamente entre as melhores novelas de Arthur C. Clarke.
A obra tem como tema a passagem de um corpo pelo Sistema Solar, um gigantesco cilindro artificial que se revela um pequeno mundo oco (16 quilómetros de diâmetro, 50 de profundidade, com um mar central numa faixa cilíndrica de 10 quilómetros), habitável – e deserto. A expedição que o aborda, numa estreita janela temporal limitada pela passagem demasiado rasante ao Sol, explora este enigma vindo dos abismos do espaço e do tempo – pela análise da sua trajectória não terá passado nas proximidades de uma estrela nos últimos 200 mil anos, e o artefacto poderá ter milhões de anos. Durante a exploração, e com a aproximação ao Sol, Rama vai acordando lentamente. Se deixa de ser um mundo estático e, de certa forma, desabitado, dado que as surpresas se vão sucedendo numa escala cada vez maior, também é verdade que nunca é encontrado o menor traço de um ramano ou da existência comprovada de vida. Alheio a todo o reboliço causado nos Planetas Unidos (uma espécie de futura ONU que congrega representantes de sete povoamentos humanos do Sistema Solar), Rama segue imperturbável o seu curso rumo às estrelas, não sem antes ter dado uma demonstração cabal da sua capacidade, na passagem do periélio, adensando o enigma.

It was impossible to tell how far they had travelled, and Calvert guessed they had almost reached the fourth level when Mercer suddenly braked again. When they had bunched together, he whispered: "Listen! Don't you hear something?"
"Yes," said Myron, after a minute. "It sounds like the wind."
Calvert was not so sure. He turned his head back and forth, trying to locate the direction of the very faint murmur that had come to them through the fog, then abandoned the attempt as hopeless.
They continued the slide, reached the fourth level, and started on towards the fifth. All the while the sound grew louder—and more hauntingly familiar. They were halfway down the fourth stairway before Myron called out: "Now do you recognize it?"
They would have identified it long ago, but it was not a sound they would ever have associated with any world except Earth. Coming out of the fog, from a source whose distance could not be guessed, was the steady thunder of falling water.
A few minutes later, the cloud ceiling ended as abruptly as it had begun. They shot out into the blinding glare of the Raman day, made more brilliant by the light reflected from the low-hanging clouds. There was the familiar curving plain—now made more acceptable to mind and senses, because its full circle could no longer be seen. It was not too difficult to pretend that they were looking along a broad valley, and that the upward sweep of the Sea was really an outward one.
They halted at the fifth and penultimate platform, to report that they were through the cloud cover and to make a careful survey. As far as they could tell, nothing had changed down there on the plain; but up here on the Northern dome, Rama had brought forth another wonder.
So there was the origin of the sound they had heard. Descending from some hidden source in the clouds three or four kilometres away was a waterfall, and for long minutes they stared at it silently, almost unable to believe their eyes. Logic told them that on this spinning world no falling object could move in a straight line, but there was something horribly unnatural about a curving waterfall that curved sideways, to end many kilometres away from the point directly below its source...
"If Galileo had been born in this world," said Mercer at length, "he'd have gone crazy working out the laws of dynamics."
"I thought I knew them," Calvert replied, "and I'm going crazy anyway. Doesn't it upset you, Prof?"
"Why should it?" said Sergeant Myron. "It's a perfectly straightforward demonstration of the Coriolis Effect. I wish I could show it to some of my students."
Mercer was staring thoughtfully at the globe-circling band of the Cylindrical Sea.

Li anteriormente:
Os Náufragos do Selene (1961)
Luz da Terra (1955)
Expedição à Terra (1953)

6 de xuño de 2016

A Sonda do Tempo


Arthur C. Clarke / vários autores
A Sonda do Tempo (1966)

Uma antologia de contos de vários autores de FC, organizada por um dos nomes sonantes do género, não é um acontecimento raro; já tive oportunidade de ler obras neste formato, editadas ou organizadas por Isaac Asimov ou Bruce Sterling. A Sonda do Tempo (Time Probe no título original) compõe-se de 11 contos que incluem o Take A Deep Breath (ou Respire Fundo), do próprio Arthur C. Clarke, que eu já conhecia da sua colectânea O Outro Lado do Céu. Os outros autores incluídos são Isaac Asimov, Robert A. Heinlein, Julian Huxley (irmão de Aldous Huxley), Cyril M. Kornbluth, Philip Latham, Murray Leinster, James H. Schmitz, Robert Silverberg, Theodore L. Thomas e Jack Vance. Os contos datam entre 1927 e 1962, e Arthur C. Clarke fez a sua selecção de modo que cada um deles ilustrasse um aspecto particular da ciência ou tecnologia – matemática, arqueologia, medicina, biologia, etc.
É difícil – para não dizer injusto – destacar qualquer dos contos; mas, para o excerto abaixo citado escolhi o primeiro, de Robert A. Heilein, intitulado ... E Ele Construiu Uma Casa Torta, que tem por tema uma casa tetradimensional, por aplicação da geometria não euclidiana, concebida por um arquitecto chamado Quintus Teal que, após uma conversa com um amigo, bem regada de conhaque, o convence a financiá-la. Depois de considerarem as dificuldades burocráticas, decidem-se por um desdobramento tridimensional dessa forma geométrica (da mesma forma que a cruz latina é um desdobramento bidimensional de um cubo). Uma vez construído o edifício, e na consequência de um pequeno incidente, o arquitecto, o amigo e a mulher deste, na visita inaugural, vêem-se aprisionados numa casa de geometria inesperada onde, por exemplo, se se caminhar sempre no mesmo sentido volta-se ao ponto de partida, ou ao espreitar por uma janela nunca se vê o que seria de esperar (e, a partir daqui. as coisas só tendem a piorar...)

Do ponto de vista dos Baileys ele simplesmente desapareceu.
Mas não do seu. Levou alguns segundos para recuperar o fôlego. Então, cautelosamente, soltou-se da roseira com a qual ficara quase que irrevocavelmente entrelaçado, tomando mentalmente nota de nunca mais encomendar ajardinamento que incluísse plantas com espinhos, e olhou em volta.
Estava do lado de fora da casa. O volume compacto da sala do andar térreo elevava-se ao seu lado. Aparentemente, caíra do telhado.
Dobrou a esquina da casa correndo, abriu a porta da frente, com violência, e subiu correndo as escadas. — Homer! — chamou. — Sra. Bailey! Encontrei uma saída!
Bailey pareceu mais aborrecido do que contente em vê-lo. — O que foi que aconteceu com você?
— Caí para fora. Estive do lado de fora da casa. Vocês podem fazer isso com a mesma facilidade — apenas atravessem essas portas-janelas. Cuidado com a roseira, talvez tenhamos que construir outra escada.
— Como foi que voltou a entrar?
— Pela porta da frente.
— Então sairemos da mesma maneira. Venha, querida. — Bailey enfiou, resolutamente, o chapéu na cabeça e desceu as escadas com passo firme, a esposa agarrada ao seu braço.
Teal encontrou-os na saleta. — Eu podia ter-lhes dito que isso não funcionaria — observou. — Agora, eis o que devemos fazer: do modo como vejo as coisas, numa figura quadridimensional, um homem tridimensional tem duas escolhas cada vez que cruza uma linha de junção, como uma parede ou um limiar. Comumente, ele fará uma volta de noventa graus na quarta dimensão, só que não sentirá isso nas suas três dimensões. Olhem. — Teal atravessou a mesma janela pela qual caíra há poucos momentos. Atravessou-a e chegou à sala de jantar, bem onde estava, ainda falando.
— Observei onde ia e cheguei onde tencionava. — Voltou para a saleta. — Da outra vez não prestei atenção, desloquei-me através do espaço normal e caí para fora da casa. Deve ser um caso de orientação subconsciente.
— Detestaria ter de depender de orientação subconsciente quando saio de manhã para apanhar o jornal.
— Você não terá de fazê-lo; tornar-se-á automático. Bem, para sair da casa, desta vez — Sra. Bailey, se a senhora ficar de pé aqui, com as costas para a janela e pular para trás, tenho absoluta certeza de que a senhora aterrissará no jardim.
O rosto da Sra. Bailey expressava sua opinião sobre Teal e suas idéias. — Homer Bailey — disse ela com voz esganiçada, —, você vai ficar parado aí e deixar que ele sugira uma coisa des...
— Mas, Sra. Bailey — tentou explicar Teal —, podemos amarrar uma corda na senhora e baixá-la fácil.
— Esqueça, Teal — interrompeu Bailey, bruscamente. — Vamos ter de encontrar coisa melhor do que essa. Nem a Sra. Bailey nem eu estamos em condições de pular.

28 de marzo de 2014

Os Náufragos do Selene


Arthur C. Clarke
Os Náufragos do Selene (1961)

De Arthur C. Clarke já li mais de uma dúzia de livros. Em todos eles há uma contenção e uma sobriedade que fizeram deste autor um dos meus favoritos, na área da FC. Alguns têm como cenário a Lua. Escritos antes das missões Apollo, descrevem alguns exotismos locais, como, no caso presente, um mar de poeira cujas características são descritas como nem sólidas nem líquidas, com todas as desvantagens de ambos os estados, mas sem nenhuma das vantagens. Curiosa, também, a avaliação do fenómeno OVNI (além de "O Fim da Infância", não me recordo de outro livro de Clarke onde apareça um ser extraterrestre): neste futuro próximo é um tema obscuro, ignorado e ultrapassado, que Clarke localiza nos anos 50 do séc. XX e associa ao sentimento religioso, território de teorias da conspiração e de maníacos.

Todo astronauta acreditava que mais cedo ou mais tarde a raça humana encontraria inteligências vindas de outro lugar. Tal encontro ainda poderia estar muito distante, mas os hipotéticos "extraterrenos" já eram parte da mitologia do espaço e recebiam a culpa de tudo o que não tivesse explicação.
É fácil acreditar neles quando alguém se encontra com um grupo de companheiros em um mundo estranho e hostil, onde as próprias rochas e o ar (se houver ar) são totalmente exóticos. Aí nada pode ser considerado absurdo e a experiência de mil gerações, nascidas na Terra, pode ser inútil. Da mesma forma que o homem primitivo povoara o desconhecido ao seu redor com deuses e espíritos, assim o Homo astronauticus olhava por sobre o ombro, quando pousava em cada novo mundo, perguntando-se quem ou o quê já não estaria por lá. Durante alguns breves séculos o Homem se imaginara senhor do Universo; e essas esperanças e temores primitivos, sepultados em seu subconsciente, estavam agora mais fortes que nunca – e com boa dose de razão enquanto olhava a face brilhante dos céus e pensava nos poderes que estariam à espreita por lá.

Li anteriormente:
Luz da Terra (1955)
Expedição à Terra (1953)
O Outro Lado do Céu (1958)