22 de decembro de 2018

The Portugal of Salazar

Michael Derrick
The Portugal of Salazar (1938)

Não há muita informação disponível sobre Michael Derrick e não sei se este livro alguma vez foi publicado em Portugal — desde logo não aparece nas pesquisas da Biblioteca Nacional. Foi editado em Londres pela Paladin Press em 1938, pela Campion Books Ltd. em 1939, em Nova Iorque, e tem outras edições posteriores em língua inglesa. Em Portugal, onde polulam as publicações folhetinescas sobre os aspectos mais frívolos da vida de Oliveira Salazar, por regra fantasiosas e sem um mínimo de investigação credível, seria certamente bem-vinda uma tradução cuidada desta peça histórica. Mas os livros relevantes sobre o antigo estadista são extremamente raros, e até a sua obra escrita (fundamentalmente discursos) se encontra arredada dos escaparates, remetida a uma quase clandestinidade.
The Portugal of Salazar foi escrito por Michael Derrick aos 23 anos, durante um período de convalescença passado na Hungria. Depois de estudar em Oxford, e sempre ligado ao jornalismo católico, foi editor assistente do londrino The Tablet e, mais tarde, editor do Dublin Review, também de Londres. Poucos meses antes da sua morte, em 1961, tornara-se correspondente do L'Osservatore Romano.
Assumido simpatizante do Estado Novo, Michael Derrick propôs-se, neste livro, desmistificar a propaganda comunista hostil ao regime, que grassava internacionalmente na esteira da Guerra Civil Espanhola, nas vésperas de uma pressentida guerra mundial, tentando explicar o pensamento e a obra de Oliveira Salazar. É ao mesmo tempo a perspectiva de um estrangeiro, após o décimo aniversário da Revolução Nacional, impressionado pelo bom desempenho do regime e que se interessa sobretudo pela construção do Estado Corporativo, reconhecida peculiaridade entre os regimes da direita autoritária que então se tinham espalhado pela Europa. E é forçoso assinalar que um jovem, no início da sua carreira profissional, concluiu acertadamente o que muitos historiadores encartados, do alto das suas cátedras carunchosas, nunca conseguirão enxergar, por obtusidade manifesta — que o Estado Novo não era um regime “fascista”. As afinidades do regime português com o modelo posto em prática por Benito Mussolini são residuais; basta o lema do ducetudo no estado, nada fora do estado, nada contra o estado — para comprovar que o Estado Novo era uma coisa completamente diferente, pois propunha um estado mínimo e tinha horror à burocracia. As grandes influências de Oliveira Salazar residiam nas encíclicas papais (de Leão XIII e do seu sucessor, Pio X) e na doutrina social da Igreja; era crítico do liberalismo e do capitalismo, e o seu modelo económico voltava-se para a recuperação e actualização do corporativismo medieval — um corporativismo integral, de associação (e não exclusivamente económico, de estado, ao modo italiano), recusando a luta de classes, na procura do bem comum de empregadores e assalariados.
O excerto escolhido pertence ao capítulo em que o autor dá o contexto que gerou o 28 de Maio: a oligarquia liberal-maçónica que, durante o séc. XIX e o primeiro quarto do séc. XX, capturou o Estado para os seus próprios interesses, impôs ideais e condutas alheios à Nação e fez da República a poção salvadora, mesmo que imposta a balas e sangue; após 16 anos de violência extremista oferecida à sociedade em nome da “democracia”, o povo acolheu a “ditadura” com alívio, como um regresso à normalidade e à prosperidade... Mas, diz uma expressão inglesa, a ferrugem nunca dorme. Fica ainda uma última citação de Oliveira Salazar (a António Ferro): "You cannot imagine how difficult it is to wake up our sleepy and apathetic race". Ontem como hoje.

In Portugal, as in Spain, Parliamentary government on the English pattern has always meant a chaos of camarillas and caciquismo, corruption, rotativism and revolution; it has meant the creation of a class of professional politicians preying on the people: a travesty of democracy screening the machinations of profiteers. That will seem like a sentence of excited exaggeration until the political history of Portugal in the nineteenth century comes to be written in English. English electioneering methods of the eighteenth do not bear comparison with those of Portugal. The electorate in 1871 was less than seven per cent of the population, and was wholly controlled, not by bribes, as in the good old English fashion, but by local "bosses."
The Portuguese of the years before 1926 cared little and knew less about what went on at San Bento, where the Còrtes sat, and where (as he was always told) he was the ultimate controlling influence. "As disorder followed disorder, he turned himself always more deeply towards his wife and his children, his house, his daily work, the field, the garden, the forest. These things had been known to his parents, to his grandparents, and to his ancestors through the ages, who had successively dug the soil, cultivated the vine and the patch of maize, reared children, suffered . . ." What use was the "vote" to him? He was, and remains, an incorrigible illiterate, concerned only with the realities of life, with hardship and the soil, and with eternity.
"If Lisbon turns Turk to-morrow, all Portugal will wear the Fez," wrote the novelist Eça de Queiroz. Too often has the voice of the Lisbon mob been taken for the voice of Portugal. It was republican Lisbon that made Portugal a Republic in 1910; and the reasons why Lisbon was republican have been told in an earlier chapter. Only a few months previously King Manoel had made a journey through the country districts of Beira "which in some places became a triumphant progress, the peasants pressing eagerly to welcome their King." But Lisbon turned Turk, and Portugal accepted, unprotesting, unknowing. For the last Ministry of the Monarchy, the elections of August 28, 1910, returned 14 Republicans among 144 deputies. Of these 14, 10 came from Lisbon. And when the Republic was proclaimed, the millions of Portuguese knew nothing of the matter, had no more hand in it than they had ever had in the affairs of Portugal, and were concerned in it only in so far as the fantastic confusion into which Portuguese politics were immediately plunged had its effect upon their daily lives.
The constant succession of revolutions between 1910 and 1926 were exclusively political in character, and were unnoticed outside Lisbon: the general disappearance of administrative order and the general rise in the cost of living continued steadily and without interruption. In 1926 the country rose: we have told the story already.
The Government that then, in the name of the nation, took control of affairs was a dictatorship. It was a dictatorship in the Roman sense of the word: that is, a Government that had seized temporary absolutism to meet a national emergency. It was certainly not a dictatorship in the modern sense of a tyranny: it represented a release from tyranny, from the intolerable tyranny of the professional politicians and the local bosses.


9 de decembro de 2018

Os Protocolos dos Sábios de Sião


Gustavo Barroso / vários autores
Os Protocolos dos Sábios de Sião (1936)

Se alguém pensasse em eleger o livro mais escandaloso do séc. XX, os candidatos óbvios haviam de ser Lolita, O Amante de Lady Chatterley, ou um qualquer livro de Henry Miller. No entanto, Os Protocolos batem-nos a todos juntos, porque, mais do que uma ficção desbragada, trata de uma realidade incontestável que se pretende ocultar e desacreditar. Sobre Os Protocolos já se escreveram rios de tinta e é inútil chover no molhado. Àqueles que continuam a desvalorizá-los e a apodá-los de falsificação, basta relembrar que aqueles escritos com mais de um século (apareceram em 1898 na Rússia czarista e foram registados no British Museum em 1906) contêm uma agenda política que tem sido seguida ponto por ponto na sua concretização metódica, o que torna irrelevante a questão da sua origem, ou da alegada falsificação, levantadas como cortina de fumo.
Encontrei um comentário de Ramón Bau que sintetiza toda a questão: «Os Protocolos são uma leitura fundamental, não como um documento histórico, cujo valor pode ser mais ou menos discutido, e menos ainda no que toca à autenticidade da sua origem. O importante é analisar se as suas previsões e as suas recomendações são autênticas, se se cumprem, e se reflectem a estratégia do Inimigo do Mundo. Por isso nunca me preocupei em defender se estes documentos foram ou não escritos por sionistas ou pela polícia do Czar ou por quem quer que seja — essa é uma questão, por agora, irrelevante. O que realmente importa é que descrevem exactamente a estratégia do sionismo mundial.»
Gustavo Barroso foi um historiador, romancista e ensaísta brasileiro, fundador do Museu Histórico Nacional, reconhecido internacionalmente e condecorado em Portugal com a Comenda da Ordem Militar de Cristo e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada. Foi membro da Academia Portuguesa da História, da Academia das Ciências de Lisboa, e da Academia de Belas Artes de Portugal, entre outras instituições portuguesas. Foi líder da fugaz Ação Integralista Brasileira e um dos seus principais ideólogos. Em 1936 publicou a tradução portuguesa de Os Protocolos dos Sábios de Sião, que a “mão invisível” rapidamente fez desaparecer de circulação, até que em 1991, por iniciativa de S.E. Castan e da Revisão Editora, voltou ao prelo. A edição original, da Agência Minerva, de São Paulo, inclui ainda o prefácio da versão francesa de 1912, “O Perigo Judaico” por Roger Lambelin, e um segundo texto, do alemão W. Creutz, sobre a autenticidade do documento. Nesta edição, os 24 Protocolos são anotados e comentados por Gustavo Barroso, reunindo citações de outros textos bem identificados, que complementam o objecto de análise. (Note-se que onde Barroso aplicou a palavra cristão/cristãos, poderia ter traduzido pelo conceito mais abrangente de gentio/gentios: os não-judeus).
Publicados desde o início do séc. XX, Os Protocolos popularizaram-se após o final da Grande Guerra, quando houve a percepção geral que determinado curso de eventos históricos já verificados e ali referidos, não eram previsíveis à data do seu aparecimento. A polémica agudizou-se e a comunidade judaica tentou por todos os meios à sua disposição impedir a circulação do texto que, recorde-se, clamava ser uma falsificação. Dos três excertos escolhidos, dois são comentários — o primeiro versa a admissão da veracidade do texto pelos próprios judeus; o segundo sobre o espírito dos Protocolos nos textos sagrados — e, o terceiro, uma citação dos próprios Protocolos (“a quinta-essência do pensamento judaico”) acerca da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.

Em 30 de novembro de 1934, à página 58 da revista "American-Hebrew", a mais importante publicação judaica dos Estados Unidos, vem um editorial sôbre o processo dos "Protocolos", então recentemente instaurado na Suíça.
Dêle extraímos e traduzimos o seguinte trecho : "A questão da autenticidade dos pretensos "Protocolos" é de importância absolutamente mínima. Só pode interessar aos historiadores. Por que, mesmo se a autenticidade dêsse documento fosse provada, que significaria isso? Simplesmente que um grupo de homens desejava conquistar o mundo. Mas qual o povo que não alimentou êsse sonho em certa época de sua história? Pois bem, admitamos que alguns chefes de Israel tenham tido essa idéia. Por que não?"
E' o cúmulo da impudência e da desfaçatez ! A importância do caso é mínima. Entretanto, na sala do tribunal, o grande rabino Ehrenpreiss, vindo de Estocolmo, declara com ênfase "Dezasseis milhões de judeus esperam ansiosamente o veredito !" E outra testemunha judaica exclama : "Trata-se da honra de Israel !"
Os judeus norte-americanos admitiram por êsse artigo a possibilidade da autenticidade dos "Protocolos". Até agora, todo o judaísmo a contestava. Agora, ela já é possível. E', diante de sua possível prova, a retirada garantida : todos os povos têm tido sonhos de domínio universal : por que os judeus não podem tê-lo ?
E' verdade, registra um comentador alemão, que todos os povos tentaram realizar seus sonhos de ambição ou gloria, mas nenhum pelos processos infames preconizados nos infames "Protocolos" . . .
[...]
O espírito dos "Protocolos" provém dos próprios livros sagrados dos hebreus, é fundamentalmente israelita. Encontraremos o resumo do plano do domínio mundial pelos judeus no livro do profeta conhecido dos exegetas como o Segundo Isaías, Deutero-Isaías :
"As nações se reünirão para prestar homenagem ao povo de Deus ; tôda a fortuna das nações passará para o povo judeu ; elas caminharão, agrilhoadas como cativas, atrás do povo judeu e se prosternarão diante dêle ; os reis serão aios dos filhos de Israel e as princesas amas de seus filhos. Os judeus governarão as nações ; chamarão a si os povos que nem mesmo conheçam, os quais correrão para êles. As riquezas do mar e a fortuna das nações virão elas próprias para os judeus. O povo e o reino que não servirem Israel serão destruídos. O Povo Eleito beberá o leite das nações e sugará o seio dos reis, devorará a fortuna das nações e se cobrirá de esplendor".
Será possível que, diante de documentos desta ordem, diante de provas tão concludentes do plano de domínio judaico, os cristãos continuem a não querer ver o perigo, a abandonar suas tradições e a seguir as novidades ilusórias criadas pela magia de Israel para os botar a perder e os escravizar ?
O' cristão, ao menos escolhe o môlho com que queres ser comido no banquete de Leviatan, a que alude Calixto de Wolski, no banquete do dia glorioso em que o judaísmo comemorará sua vitória sôbre as ruínas do mundo cristão !...
[...]
Fomos nós os primeiros que, já na antiguidade, lançámos ao povo as palavras "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", palavras repetidas tantas vêzes pelos papagaios inconcientes, que, atraídos de tôda a parte por essa isca, dela sòmente têm usado para destruir a prosperidade do mundo, a verdadeira liberdade individual, outrora tão bem garantida dos constrangimentos da multidão. Homens que se julgavam inteligentes não souberam desvendar o sentido oculto dessas palavras, não viram que se contradizem, não repararam que não há igualdade na natureza, que nela não pode haver liberdade, que a própria natureza estabeleceu a desigualdade dos espíritos, dos caracteres e das inteligências, tão fortemente submetidos às suas leis ; êsses homens não sentiram que a multidão é uma fôrça cega ; que os ambiciosos que elege são tão cegos em política quanta ela ; que o iniciado, por mais tolo que seja, pode governar, enquanto que a multidão dos não iniciados, embora cheia de gênio, nada entende da política. Tôdas essas considerações não abrolharam no espírito dos cristãos ; entretanto, é nisso que repousa o princípio dinástico dos governos ; o pai transmite ao filho os segredos da política, desconhecidos fora dos membros da família reinante, a fim de que ninguém os possa trair. Mais tarde, o sentido da transmissão hereditária dos verdadeiros princípios da política se perdeu. O êxito de nossa obra aumentou.
Todavia, no mundo, as palavras Liberdade, Igualdade, Fraternidade puseram em nossas fileiras, por intermédio de nossos agentes cegos, legiões inteiras de homens que arvoraram com entusiasmo nossos estandartes. Contudo, tais palavras eram os vermes que roíam a prosperidade dos não-judeus, destruindo por tôda a parte a paz, a tranqüilidade, a solidariedade, minando todos os alicerces de seus Estados. Vereis pelo que se segue como isso serviu ao nosso triunfo ; isso nos deu, entre outras cousas, a possibilidade de obter o triunfo mais importante, isto é, a abolição dos privilégios, a própria essência da aristocracia dos cristãos, o único meio de defesa que tinham contra nós os povos e as nações. Sôbre as ruínas da aristocracia natural e hereditária, elevamos nossa aristocracia da inteligência e das finanças. Tomamos por critério dessa nova aristocracia a riqueza, que depende de nós, e a ciência, que é dirigida por nossos sábios.
Nosso triunfo foi ainda facilitado pelo fato de, nas nossas relações com os homens de quem precisamos, sabermos tocar as cordas mais sensíveis da alma humana : o cálculo, a avidez, a insaciabilidade dos bens materiais, tôdas essas fraquezas humanas, cada qual capaz de abafar o espírito de iniciativa, pondo a vontade dos homens à disposição de quem compra sua atividade.
A idéia abstrata da liberdade deu a possibilidade de persuadir às multidões que um govêrno não passa de gerente do proprietário do país, que é o povo, podendo-se mudá-lo como se muda de camisa.
A removibilidade dos representantes do povo coloca-os à nossa disposição ; êles dependem de nossa escolha.