6 de xuño de 2016

A Sonda do Tempo


Arthur C. Clarke / vários autores
A Sonda do Tempo (1966)

Uma antologia de contos de vários autores de FC, organizada por um dos nomes sonantes do género, não é um acontecimento raro; já tive oportunidade de ler obras neste formato, editadas ou organizadas por Isaac Asimov ou Bruce Sterling. A Sonda do Tempo (Time Probe no título original) compõe-se de 11 contos que incluem o Take A Deep Breath (ou Respire Fundo), do próprio Arthur C. Clarke, que eu já conhecia da sua colectânea O Outro Lado do Céu. Os outros autores incluídos são Isaac Asimov, Robert A. Heinlein, Julian Huxley (irmão de Aldous Huxley), Cyril M. Kornbluth, Philip Latham, Murray Leinster, James H. Schmitz, Robert Silverberg, Theodore L. Thomas e Jack Vance. Os contos datam entre 1927 e 1962, e Arthur C. Clarke fez a sua selecção de modo que cada um deles ilustrasse um aspecto particular da ciência ou tecnologia – matemática, arqueologia, medicina, biologia, etc.
É difícil – para não dizer injusto – destacar qualquer dos contos; mas, para o excerto abaixo citado escolhi o primeiro, de Robert A. Heilein, intitulado ... E Ele Construiu Uma Casa Torta, que tem por tema uma casa tetradimensional, por aplicação da geometria não euclidiana, concebida por um arquitecto chamado Quintus Teal que, após uma conversa com um amigo, bem regada de conhaque, o convence a financiá-la. Depois de considerarem as dificuldades burocráticas, decidem-se por um desdobramento tridimensional dessa forma geométrica (da mesma forma que a cruz latina é um desdobramento bidimensional de um cubo). Uma vez construído o edifício, e na consequência de um pequeno incidente, o arquitecto, o amigo e a mulher deste, na visita inaugural, vêem-se aprisionados numa casa de geometria inesperada onde, por exemplo, se se caminhar sempre no mesmo sentido volta-se ao ponto de partida, ou ao espreitar por uma janela nunca se vê o que seria de esperar (e, a partir daqui. as coisas só tendem a piorar...)

Do ponto de vista dos Baileys ele simplesmente desapareceu.
Mas não do seu. Levou alguns segundos para recuperar o fôlego. Então, cautelosamente, soltou-se da roseira com a qual ficara quase que irrevocavelmente entrelaçado, tomando mentalmente nota de nunca mais encomendar ajardinamento que incluísse plantas com espinhos, e olhou em volta.
Estava do lado de fora da casa. O volume compacto da sala do andar térreo elevava-se ao seu lado. Aparentemente, caíra do telhado.
Dobrou a esquina da casa correndo, abriu a porta da frente, com violência, e subiu correndo as escadas. — Homer! — chamou. — Sra. Bailey! Encontrei uma saída!
Bailey pareceu mais aborrecido do que contente em vê-lo. — O que foi que aconteceu com você?
— Caí para fora. Estive do lado de fora da casa. Vocês podem fazer isso com a mesma facilidade — apenas atravessem essas portas-janelas. Cuidado com a roseira, talvez tenhamos que construir outra escada.
— Como foi que voltou a entrar?
— Pela porta da frente.
— Então sairemos da mesma maneira. Venha, querida. — Bailey enfiou, resolutamente, o chapéu na cabeça e desceu as escadas com passo firme, a esposa agarrada ao seu braço.
Teal encontrou-os na saleta. — Eu podia ter-lhes dito que isso não funcionaria — observou. — Agora, eis o que devemos fazer: do modo como vejo as coisas, numa figura quadridimensional, um homem tridimensional tem duas escolhas cada vez que cruza uma linha de junção, como uma parede ou um limiar. Comumente, ele fará uma volta de noventa graus na quarta dimensão, só que não sentirá isso nas suas três dimensões. Olhem. — Teal atravessou a mesma janela pela qual caíra há poucos momentos. Atravessou-a e chegou à sala de jantar, bem onde estava, ainda falando.
— Observei onde ia e cheguei onde tencionava. — Voltou para a saleta. — Da outra vez não prestei atenção, desloquei-me através do espaço normal e caí para fora da casa. Deve ser um caso de orientação subconsciente.
— Detestaria ter de depender de orientação subconsciente quando saio de manhã para apanhar o jornal.
— Você não terá de fazê-lo; tornar-se-á automático. Bem, para sair da casa, desta vez — Sra. Bailey, se a senhora ficar de pé aqui, com as costas para a janela e pular para trás, tenho absoluta certeza de que a senhora aterrissará no jardim.
O rosto da Sra. Bailey expressava sua opinião sobre Teal e suas idéias. — Homer Bailey — disse ela com voz esganiçada, —, você vai ficar parado aí e deixar que ele sugira uma coisa des...
— Mas, Sra. Bailey — tentou explicar Teal —, podemos amarrar uma corda na senhora e baixá-la fácil.
— Esqueça, Teal — interrompeu Bailey, bruscamente. — Vamos ter de encontrar coisa melhor do que essa. Nem a Sra. Bailey nem eu estamos em condições de pular.

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