18 de marzo de 2014

Contos Completos

Edgar Allan Poe
Contos Completos (1832-1849)

68 contos de Edgar Allan Poe, que representam quase toda a sua obra completa em prosa (completam-na três ou quatro curtos ensaios e o romance Gordon Pym). Mostram também o seu humor e versatilidade, para além da faceta mais conhecida do horror e do fantástico. O excerto que se segue é do conto O Sistema do Doutor Abreu e do Professor Pena.

Seguiu-se um espetáculo da mais terrível confusão. Com grande espanto meu, o Sr Maillard lançou-se para debaixo do aparador. Havia esperado de sua parte mais decisão. Os membros da orquestra que durante os últimos quinze minutos pareciam demasiado bêbados para executar a sua tarefa, ergueram-se todos imediatamente, pegando dos instrumentos, e, trepando em cima de sua mesa, atacaram, num só tom, o Yankee Doodle, que tocaram, se não com harmonia, pelo menos com uma energia sobre-humana, durante todo o tempo do tumulto.
Entretanto, para cima da principal mesa de jantar, entre as garrafas e copos, pulou o homem que com tanta dificuldade fora impedido de pular para cima dela antes. Logo que se instalou comodamente, começou um discurso que, sem dúvida, teria achado excelente, se pudesse ter sido ouvido. No mesmo momento, o homem que tinha predileção pelos piões se pôs a girar pela sala, com imensa energia, e com os braços estendidos em ângulo reto com o corpo, de modo que tinha o ar completo dum verdadeiro pião, derrubando qualquer corpo que acontecia estar em seu caminho. E então, ouvindo também um inacreditável estouro e espumejar de champanha, descobri, afinal, que provinham da pessoa que, durante o jantar, desempenhara o papel de garrafa de tão delicada bebida. E depois, novamente, o homem-rã coaxava como se a salvação de sua alma dependesse de cada nota que emitia. E, no meio de tudo isto, o contínuo zurrar dum jumento a tudo dominava. Quanto à minha velha amiga, Madame Joyeuse fazer chorar o seu aspecto de terrível perplexidade. Tudo quanto fazia era ficar a um canto, junto da lareira, e cantar o mais alto que podia: «Có-coró-cóóó!»

Li anteriormente:
As Aventuras de Arthur Gordon Pym (1837)

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