3 de maio de 2014

Amor de Perdição

Camilo Castelo Branco
Amor de Perdição (1862)

É a obra mais conhecida de Camilo Castelo Branco, várias vezes adaptada ao cinema, e, talvez, o mais perfeito exemplo do romantismo na literatura portuguesa. Inspirado por factos reais sucedidos no seio da sua família e, certamente, pela própria experiência pessoal - o autor escreveu a novela na mesma cadeia por onde faz passar um dos protagonistas -, Amor de Perdição é uma variação sobre o tema de Romeu e Julieta: o amor contrariado de Simão Botelho e Teresa Albuquerque, rumo a um desfecho funesto. Julgar que a previsibilidade do enredo retira o prazer da leitura, seria, no entanto, um erro. A escrita viva de Camilo Castelo Branco e os frequentes episódios paralelos (a maledicência das monjas, quando Teresa é enviada para o convento de Viseu, é hilariante), aligeiram o trágico desenrolar da narrativa.

O académico, porém, com os seus entusiasmos, era incomparavelmente muito mais prejudicial e perigoso que o mata-mouros de tragédia. As recordações esporeavam-no a façanhas novas, e naquele tempo a academia dava azo a elas. A mocidade estudiosa, em grande parte, simpatizava com as balbuciantes teorias da liberdade, mais por pressentimento, que por estudo. Os apóstolos da Revolução Francesa não tinham podido fazer reboar o trovão dos seus clamores neste canto do mundo; mas os livros dos enciclopedistas, as fontes onde a geração seguinte bebera a peçonha que saiu do sangue de noventa e três, não eram de todo ignorados. As doutrinas da regeneração social pela guilhotina tinham alguns tímidos sectários em Portugal, e esses de ver é que deviam pertencer à geração nova. Além de que o rancor à Inglaterra lavrava nas entranhas das classes manufactureiras, e o desprender-se do jugo aviltador de estranhos, apertado, desde o princípio do século anterior, com as sogas de ruinosos e pérfidos tratados, estava no ânimo de muitos e bons portugueses que se queriam antes aliançados com a França. Estes eram os pensadores reflexivos; os sectários da academia, porém, exprimiam mais a paixão da novidade que as doutrinas do raciocínio.

Li anteriormente:
A Queda dum Anjo (1866)

Ningún comentario:

Publicar un comentario