12 de maio de 2014

Revolta em 2100


Robert A. Heinlein
Revolta em 2100 (1953)

Revolt in 2100 é composto de uma novela, If This Goes On... (Se Isto Continuar) e dois contos, Coventry e Misfit (O Desajustado), os três originalmente publicados na Astounding Science Fiction entre 1939 e 1940, e pertencentes ao ciclo Future History. Se Isto Continuar (à qual pertence o excerto abaixo apresentado), passa-se na época referida em Os Filhos de Matusalém como «o Interregno dos Profetas», uma tirania teocrática e isolacionista estabelecida nos Estados Unidos; narra, na primeira pessoa, a história de John Lyle, um jovem soldado pertencente à própria guarda pretoriana do Profeta, que, por causa de um amor ilegal, se vê arrastado para a clandestinidade e para a maçonaria, e consequentemente para o combate à ordem que até então aceitava sem questionar.
Coventry, também várias vezes referenciado em Os Filhos de Matusalém, é uma extensa reserva cercada por uma barreira intransponível, onde são largados à sua sorte os associais e criminosos que optam por recusar um tratamento de reajuste psicológico. Coventry descreve a condenação e o desterro de David MacKinnon nesse território, dando simultaneamente uma visão da organização social aí praticada, da importância das relações de poder e de amizade, e da luta pela sobrevivência nessa terra de vida dura.
Em O Desajustado é-nos apresentada a personagem de Andrew Jackson Libby, que desempenha um papel importante Os Filhos de Matusalém, bem como noutros contos de Future History, senhor de uma extraordinária capacidade de cálculo mental, e aqui descrito como «um desses talentos selvagens que aparecem uma vez na vida outra na morte». O Desajustado narra o seu baptismo de espaço, integrado numa missão que tem como objectivo capturar um asteróide, para, depois das necessárias escavações e construções, o transformar numa base a ser colocada entre as órbitas da Terra e Marte.

— Claro que não pretendemos levar ninguém à vingança, pois esta ainda pertence a Deus. Nunca mandaria você contra o Inquisidor porque pudesse estar tentado a alegrar-se pessoalmente com isso. Não usamos a tentação do pecado como isca. O que fazemos, o que estamos fazendo é engajar homens numa operação militar calculada, numa guerra já iniciada. Um homem-chave, às vezes, vale mais do que um regimento; pegamo-lo e matamo-lo. O bispo de uma diocese pode ser tal homem; já o de um outro Estado pode ser apenas um incompetente, sustentado pelo sistema. Matamos o primeiro, deixamos o segundo onde está. Gradativamente, estamos eliminando seus melhores cérebros. Agora — inclinou-se em minha direção — quer um emprego para agarrar esses homens-chave? É um trabalho muito importante.
Pareceu-me que, nesse negócio, sempre havia alguém querendo me fazer encarar os fatos, ao invés de me deixar fugir dos mais desagradáveis, como a maioria das pessoas consegue fazer durante a vida toda. Será que eu teria estômago para essa atribuição? Será que eu podia recusá-la, uma vez que Mestre Peter tinha insinuado que pelo menos os assassinos eram voluntários? Recusá-la e tentar ignorar do fundo do meu coração o que estava acontecendo e como eu estava desculpando tudo?
Mestre Peter tinha razão; o homem que compra carne é irmão do açougueiro. O problema era melindroso, mas não moral... como o homem que é favorável à pena de morte mas que pessoalmente é «bom» demais para preparar o nó da corda ou brandir o machado. Como a pessoa que encara a guerra como inevitável, ou mesmo em certas circunstâncias como moral, mas evita o serviço militar por não gostar de matar.
Emocionalmente infantis, eticamente retardados — a mão esquerda tem de saber o que a direita faz e o coração é responsável por ambas.

Li anteriormente:
Os Filhos de Matusalém (1958)
O Dia Depois de Amanhã (1949)
O Gato que Atravessava as Paredes (1985)

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