30 de agosto de 2023

O Despertar dos Mágicos

 


Louis Pauwels & Jacques Bergier
O Despertar dos Mágicos (1960)

A ideia inicial de Louis Pauwels, um escritor e jornalista francês com interesses místicos, era escrever um livro sobre as sociedades secretas; do seu encontro com Jacques Bergier, também escritor e jornalista, nascido na Rússia e de ascendência judia, resultou um alargamento do âmbito temático da obra, abarcando a alquimia, as civilizações desaparecidas, o esoterismo, a parapsicologia e até, sob outra designação, o trans-humanismo. Le Matin des Magiciens, no título original, foi um sucesso de popularidade na sua época, ajudou a dar visibilidade a assuntos até então marginais, e levou à publicação de uma revista bimensal sobre a mesma temática, Planète, que alcançou uma tiragem de 100 mil exemplares no seu apogeu, embora tenha deixado de se publicar em 1968.
Com o subtítulo "Uma introdução ao realismo fantástico", o livro defende a existência de um segundo plano da realidade, oculto sob a aparência do senso comum, das convenções estabelecidas e das versões oficiais; ele seria, na verdade, uma supra-realidade capaz de se revelar ao observador capaz de ultrapassar os preconceitos vigentes e de examinar os factos de mente aberta. Como reacção a uma ciência mecanicista e determinista, vinda do séc. XIX, o livro ampara-se nos conceitos não-euclidianos das ciências do séc. XX (relatividade, física quântica) para suportar a designada "pseudociência". No entanto, algo contraditoriamente, uma quarta parte do livro é dedicada à demolição do "esoterismo nazi", e à aos seus alegados pressupostos paranormais, sob a forma de propaganda primária, recorrendo a fontes totalmente desacreditadas (como Hermann Rauschning), e apresentando as suas principais figuras como dominadas pela superstição, pela irracionalidade ou pela possessão demoníaca.
O Despertar dos Mágicos é escrito com um grande voluntarismo, assumidamente apressado e superficial no tratamento dos temas, escusando-se na justificação de evitar um volume com demasiadas páginas, deixando as ideias no ar e desafiando outros investigadores a entrar pelas portas que, generosamente, no seu entender, deixa abertas. Resta ainda, a sua previsão de um futuro próximo cheio de novas ciências, nascidas do encontro do "progresso científico" com a "metafísica".

Não afirmamos que acreditamos em tudo, mas mostraremos no próximo capítulo que o campo das ciências humanas é provavelmente muito mais vasto do que imaginamos. Integrando todos os factos, sem qualquer exclusão, e aceitando considerar todas as hipóteses sugeridas por esses factos, sem qualquer espécie de a priorismo, um Darwin, um Copérnico da antropologia criarão uma ciência completamente nova se estabelecerem uma circulação constante entre a observação objectiva do passado e todos os segredos do conhecimento moderno em matéria de parapsicologia, de física, de química, de matemática. Talvez lhes pareça que a ideia de uma constante e lenta evolução da inteligência, de um sempre longo avançar do saber, não é uma ideia sólida mas um tabu que nós instituímos para nos supormos beneficiários, hoje, de toda a história humana.
Qual o motivo por que as civilizações passadas não teriam conhecido súbitos clarões durante os quais a quase totalidade do conhecimento lhes teria sido revelada? Por que motivo aquilo que por vezes se produz numa vida de homem, a inspiração, a intuição fulgurante, a explosão do génio, não se teria produzido várias vezes na vida da humanidade? Não interpretamos nós as poucas recordações desses instantes de uma forma bastante falsa ao falar de mitologia,de lendas, de magia? Se me mostrarem uma fotografia não falsificada de um homem flutuando no espaço, não direi: é a representação do mito de Ícaro, mas direi: é o instantâneo de um salto ou de um mergulho. Qual o motivo por que não haveria estados instantâneos nas civilizações?
Vamos citar outros factos, efectuar outras aproximações, formular outras hipóteses ainda. Haverá sem dúvida muitos disparates no nosso livro, repetimo-lo, mas isso importa muito pouco se este livro suscitar algumas vocações e, em certa medida, preparar caminhos mais amplos à investigação. Não passamos de dois pobres quebradores de pedras: outros construirão a estrada.

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