12 de febreiro de 2018

A Terra Oca

Raymond Bernard
A Terra Oca (1964)

Não é à primeira tentativa que se encontra informação sobre Raymond Bernard; o mais provável é depararmo-nos com o cineasta judeu francês. Este Raymond Bernard – ou Raymond W. Bernard –, Walter Siegmeister de seu verdadeiro nome, é outro judeu, estado-unidense de origem russa, escritor esotérico, praticante de medicina alternativa (estes dois temas predominam na sua extensa bibliografia), que também editou sob o nome Uriel Adriana. Movido pelos seus interesses pessoais, terá percorrido uma boa parte dos países da Ibero-América. Quanto a este livro, The Hollow Earth, publicado no ano anterior ao da sua morte, é baseado num seu outro livro, Flying Saucers from the Earth's Interior, e regressa à teoria da Terra Oca, descartada pela ciência desde finais do séc. XVIII, que tem como maior óbice o modo como se verifica a propagação das ondas sísmicas.
O principal argumento, na defesa da teoria suportada por este livro, é o testemunho do contra-almirante Richard E. Byrd, da marinha dos EUA, que em 1947 e 1956 teria sobrevoado as regiões polares árcticas e antárcticas, e penetrado em vários milhares de quilómetros na extensão interior da Terra, através de aberturas que a ela conduzem, existentes nessas regiões – um testemunho que não foi obtido directamente, mas pela transcrição e interpretação de algumas frases a si atribuídas, transcritas dos jornais da época, por sua vez citadas das rádio-transmissões. Dos membros das expedições de Byrd, falecido em 1957, que poderiam confirmar o testemunho, apenas um é referido de passagem pelo seu nome. Entretanto, Raymond Bernard acrescenta à equação o avistamento de discos voadores, atribuindo a sua origem à civilização avançada que, supostamente, existirá no continente interior, e denuncia a supressão da informação, atribuída ao poder governamental, interessado em guardar para si o segredo, com o fito de afastar possíveis competidores à conquista deste novo mundo. Recorre igualmente a relatos, lendas, outros livros e documentos que defendem a existência dessa terra, muitos deles ultrapassados tanto pelo estado do conhecimento actual, como até pelo de 1964, quando o livro deu à estampa.
Algumas das referências contidas em Le Roi du Monde, de René Guénon, também aqui são nomeadas, como seria de esperar. Contudo, ao contrário do plano simbólico e espiritual onde se coloca esse livro, este The Hollow Earth, move-se no plano puramente material da realidade física, assente sobre conclusões apressadas e desejos tomados como factos comprovados. E, como a cereja no topo do bolo, veicula uma mensagem mais que subliminar em prol do pacifismo e de um governo mundial. A Terra Oca deve ser lido como uma obra de ficção; como tal, é possível extrair dela algum interesse.

Uma das provas principais de que a Terra é oca é que é mais quente perto dos pólos. Se pode ser mostrado, citando aqueles que mais longe se aventuraram em direção aos supostos pólos, que é mais quente, que a vegetação mostra mais a vida, que a caça é mais abundante do que mais longe para o sul, então temos um direito razoável de asseverar que o calor vem do interior da Terra, uma vez que este parece ser o único lugar de onde ele pode vir. Em A Última Viagem do Capitão Hall, lemos: “Achamos esta região bem mais quente do que esperávamos, livre de neve e gelo. Achamos uma região onde a vida é abundante, com focas, gansos, patos, bois almiscarados, coelhos, lobos, raposas, ursos, perdizes, roedores etc.” (Ele está falando do norte distante.)
Nansen chama atenção especial para o calor, e diz: “Devemos quase imaginar-nos em casa.” Este é um dos pontos mais ao norte já alcançado por alguém, e, todavia, o clima é ameno e agradável.
Será observado que estes ventos extremamente fortes do interior da Terra não somente elevam consideravelmente a temperatura na vizinhança do oceano Ártico, mas influenciam até à distância de seiscentos e cinqüenta quilômetros. Nada poderia elevar a temperatura de tal maneira exceto uma tempestade vinda do interior da Terra.
Greely diz: “Certamente esta presença de pássaros, flores e feras é uma saudação por parte da natureza ao nosso novo lar”. Será que isto soa como se ele tivesse esperado achar tais coisas lá, ou que a sua presença era uma ocorrência de todos os dias? Não. Foi escrito num tom de surpresa. De que lugar vieram estes pássaros e caças. Ao sul, por quilômetros, “a terra estava coberta de neve perpétua – em muitos lugares com milhares de metros de profundidade. Eles foram achados naquela localização no verão; e como era mais quente para o norte não é provável que fossem para um clima mais frio no inverno. Eles parecem passar para o interior da Terra. Certas aves da Austrália deixam aquele continente em setembro e ninguém foi jamais capaz de descobrir para onde vão. Minha teoria é de que passam para o interior da Terra, pelo Pólo Sul.

Ningún comentario:

Publicar un comentario