1 de setembro de 2018

Nuevo descubrimiento del Gran Río de las Amazonas

Cristóbal de Acuña
Nuevo descubrimiento del Gran Río de las Amazonas (1641)

Nascido em Burgos, em 1597, Cristóbal de Acuña foi um missionário jesuíta que passou grande parte da sua vida nas Índias Ocidentais, onde morreu, em Lima, em 1675. Este livro, Nuevo descubrimiento del Gran Río de las Amazonas, relata a viagem cartográfica feita com a Armada Portuguesa, sob o comando de Pedro Teixeira.
Pedro Teixeira saiu do Pará a 28 de Outubro de 1637, com 47 grandes canoas, 70 soldados portugueses, 1200 índios guerreiros e remadores, acompanhados de mulheres e crianças ajudantes num total que ultrapassava as 2000 pessoas. À sua frente destacou um grupo batedor, comandado pelo coronel Benito Rodrigues de Oliveira, que chegou ao Puerto de Payamino, primeiro estabelecimento castelhano, na jurisdição de Quito, a 24 de Junho de 1638. Os dois acabaram por se reunir na cidade de Quito e foi a partir de Lima, onde se situava a capital do vice-reino do Peru, que receberam o encargo de fazer a viagem no sentido inverso, com todos os meios necessários, para o reconhecimento do território em favor da Coroa. Foi também nomeado para a expedição o padre Cristóbal de Acuña, então reitor do colégio da Companhia de Jesus em Cuenca, Quito, acompanhado do padre Andrés de Artieda, leitor de teologia no mesmo colégio. A viagem iniciou-se a 16 de Fevereiro de 1639, e a chegada ao Pará deu-se no dia 12 de Dezembro desse mesmo ano.
Cristóbal de Acuña levou o seu trabalho a sério e esmerou-se na objectividade e sistematização da informação recolhida. Quando, à entrada do Rio Negro, os principais oficiais da armada pensavam subir este rio para capturar escravos, e assim tornar rentável uma viagem que se lhes apresentava financeiramente desfavorável, Cristóbal de Acuña apresentou por escrito o seu protesto, reforçando a posição isolada em que se encontrava Pedro Teixeira, lembrando aos oficiais o dever de concluir a expedição o mais rapidamente possível, sem delongas, para que pudesse voltar a Espanha e apresentar o seu relatório ao rei Filipe IV.
Desde o Alto Amazonas, onde o rio se desfia numa série de afluentes vindos dos Andes, designados como entradas para as regiões onde os espanhóis se tinham já estabelecido, Cristóbal de Acuña fala da imensidão dessa bacia hidrográfica então ainda por explorar, enumerando muitos dos afluentes (alguns deles contam-se entre os maiores rios do mundo) e geografias incertas, apontando particularidades da fauna, da flora, do clima, das riquezas da terra e do rio – as madeiras, o cacau, o tabaco, o açúcar, etc. – e a enumeração interminável de tribos, num necessariamente breve apanhado das suas principais características e do território que ocupavam, bem como o que os índios lhe contaram de lugares e tribos mais distantes, relatos onde por vezes se descobre o exagero, ou a pura patranha.
Entre o término da viagem e a publicação do livro deu-se a Restauração, e por esse motivo Cristóbal de Acuña acrescentou um apêndice intitulado “Memorial apresentado no Real Conselho das Índias, sobre o dito descobrimento depois da rebelião de Portugal”, onde aconselha o rei a consolidar o seu domínio sobre este território a partir do Peru, referindo-se também ao perigo que representava a possibilidade dos holandeses conquistarem o curso inferior do rio.
Escrito num espanhol arcaico, mas que se lê sem dificuldades de maior, como se pode comprovar no trecho que se segue, esta edição do 250º aniversário foi publicada em Madrid em 1891, segundo a primeira edição.

Dizen que cercanos á su habitación, à la vanda del Sur en Tierra firme, viuen, entre otras, dos naciones, la vna de enanos, tan chicos como criaturas muy tiernas, que se llaman Guayazís, la otra de vna gente que todos ellos tienen los pies al reués, de suerte que quien no conociendo los quisiese seguir sus huellas, caminaría siempre al contrario que ellos. Llámanse Mutayus, y sónles tributarios á estos Tupiuambás, de hachas de piedra para el desmonte de los árboles, cuando quieren cultiuar la tierra, que las hazen muy curiosas, y de continuo se ocupan de labrarlas.
A la vanda de enfrente, que es la del Norte, dizen que están continuadas siete Prouincias bien pobladas, pero que por ser gente para poco, y que solo se sustentan con frutas, y animalillos siluestres, sin jamás sustentar guerras entre sí, ni con otros, no hazen dellos caso.
También afirman que con otra nación que confina con esta tubieron pazes mucho tiempo, auiendo comercio entre ellos de lo que cada una en su Prouincia abundaua, y lo principal de que los Tupinambás se proueían era de sal, que los amigos les traían por sus rescates, que afirmauan venirles de otras tierras vezinas á las suyas, cosa que si se descubriese sería de grande vtilidad para la conquista, y poblaciones deste Rio.
Y quanto aquí no se halle, se ha de descubrir en grande abundancia en un rio de los que baxan de ázia el Perú; de donde el año de treinta y siete, estando ya en la Ciudad de Lima, salieron dos hombres que de lance en lance, aportaron por aquellas partes, a cierto parage, donde baxando por vno de los ríos, que en este principal desaguan, dieron con vn gran cerro todo de sal, de que los moradores tenían el estanco, sustentándose ricos, y abundantes, con las pagas que por ella recibían, de los que de más lejos la venían á contratar.

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